28 de fevereiro de 2007

.(I)

Um ponto, Um só ponto e eu parava, mas há em mim uma revolta de existir, de dividir, em mil cores as sombras que me acordam, Estilhaços de pó, Um atrás do outro, São o meu caminho, moldado ao vento.
Um ponto, um só. Final…

23 de fevereiro de 2007

ZECA

Simplesmente, recordo-te,
mais que o cantar,
o olhar doce de um menino-revolução,
recordo a tua figura de homem calmo que incendeia o mundo, mais que o poema,
recordo o homem que sentia a morte e se deixava ir na corrente da vida, com o coração...

"pamparariripam-pamparariripam, vamos cantar as janeiras, por esses quintais a dentro vamos, ás raparigas solteiras, pamparariripam-pamparariripam, pampampam..."

recordo o batuque dos teus olhos calmos a abalarem os alicerces do mundo e da hipocrisia, dos homens-poder,
recordo o homem-menino, mais que o poeta, mais que o trovador,
recordo o homem que se passeava em camisa de pescador e que libertava a liberdade ao som de uma guitarra-tambor…
recordo,
simplesmente o Homem…

Um abraço sentido, do zé para o Zeca*, homerm-menino que olhava a morte com a doçura de um sorriso…

*a Zeca Afonso, vinte anos depois...

22 de fevereiro de 2007

Olhei uma palavra cheia de letras vazias, soprei-a e descobri uma pequena gota de um grito seco sem som, que corria, cega para o rio…guardei-a,

sem saber o que fazer dela...

Aqueci uma lágrima em fogo de alma, encontrei-a gélida de morte, entre as asas de uma gaivota, guardei-a bem fechada na minha mão, a passear-se na linha da vida...

21 de fevereiro de 2007

voa no silêncio da musica, uma musa de asas-luz, zumbe segredos, cristais magoados, martelados nos montados.

o vento (visível)
falou-me nos olhos
e esvaziou-me de todos os passos ( que não dei…
sonho?
)
segredo que só eu sei
que não escrevi,
não desenhei ( cousa minha…
sonho?)

frágil,
sensível
vitral (invisível?)
estilhaços vagabundos,
palhaço-azul, com asas-de-bruma,
de um sonho ( impossível?)

20 de fevereiro de 2007

Insisto em ouvir o voar e fundir-me nas memórias que vou pintando devagar, sem desenho. Não é cousa de brincar…é caminho de existir...

Está um urso deitado ao sol em cinzentos nuvem…gosto de me passear em nuveares. Encontram-se todas as fantasias que os olhos desenham sem cor .
A imaginação só tem cor em reflexos, misturados nas sombras que nos falam em segredos (de memórias irrequietas).

19 de fevereiro de 2007

A musica da pele, mistura-se no odor da canela e do cachimbo-fumo, em azuis prata que inventam rumos…

Oiço os tambores que trovejam em gritos de alma,
Suspiros de sereia que se finge papoila de areia-coral,
desenhada num mural,
por um poeta-pintor que perdeu o olhar e a dor,
ao apaixonar-se, por essa flor sem corpo,
sem tons,
sem cor…
Oiço as lágrimas-da-pele, que escorrem da saliva da chuva,
nesta noite escura,
nos abismos sem sons
que os sorve,
num golo só,
o mar que a envolve…

16 de fevereiro de 2007

O sol cai muitas vezes longe do azul, grávido d’horizontes. Nesses dias a gaivota só tem poesia de cinzentos...

por vezes penso ( ou procuro?)
o que se afasta de mim nos caminhos, entre-vazios, caídos num abismo de sentires…

por vezes fujo ( ou procuro?)
sentidos, fingidos de ventos…

por vezes escavo ( ou procuro?)
a escultura de uma sombra que se perdeu, escrava de ti…

por vezes procuro
nas letras que faço, o eu que há em mim…

13 de fevereiro de 2007

assolou, em mim a estranha sensação de ter perdido o medo de cair, mas de o ter,( forte e incisivo) na vontade de me erguer...

Não sei
qual a verdade que se esconde na cal do labirinto que me sopra o vento,
se este céu que me rouba o ir,
se esta lágrima-de-chuva que me gela o sentir,
se esta andorinha que voa à procura de partir,
(Não sei porque insisto neste olhar vagabundo, como se fosse um desenho de criança por colorir…)
Ah, mas sei,
(sim sei)
o quanto vivo nesta ilusão de existir, seja qual for a verdade que descobrir…

12 de fevereiro de 2007

vezes há que partimos na incerteza de irmos, firmes, inteiros presos na magia de não sermos ninguém…

Não queria estar aqui, sentado a voar sem mim,
( resta-me um fio,
cousa leve,
tecido de seda, preso aos olhos do universo
)
mas estou, (aqui),
a varrer os fragmentos de pólen e das pétalas que partiram à deriva de mim…

8 de fevereiro de 2007

perdi o instante do tempo, ia distraído a pintar o céu de violetas. Tempestade do aqui, inteiro, sem mim…

O sol rasgou o céu e desfez-se em azuis, Só os pássaros o sentem, nos equilíbrios do vento
e as arvores, catedrais dos Deuses, fingem-se cristais, Sombras verdes a assobiar fantasias…
É assim o meu dia,
ser
na melancolia de me perder no instante que antecede o amanhecer…

7 de fevereiro de 2007

nos tempos em que sonhava ao amanhecer, ouvia os sons da alma em formas de lágrima, vezes havia, que se transformavam num violino doido,

dorido, sofrido que desenhava histórias a fingir, e eu ia, não fingindo, fugindo,,,vivê-las...

Oiço-te, Chopim, desde o longe da memória,
violinos-de-sol de um menino-endiabrado…
Oiço-te, no sonho da história,
(fantasia minha, de ontem, de hoje, do agora)
agarrado à crina de um cavalo alado…
Oiço-te, violino-monge,
de olhos alagados,
em silêncios calados…
Violino-cigano
( piano?)
enfeitiçado…
oiço-te, nos passos, dados
d’uma bailarina de pano
que dança
no acordar de uma criança…

5 de fevereiro de 2007

passeio no escuro a fantasia de ser o sol a brincar com aguarelas

Escondi a lua no olhar
e perdi-me no espelho,
a desenhar, (com o pólen,
fino
e colorido, das borboletas )
flores nocturnas ( cristais de prata)
numa noite sem estrelas....

1 de fevereiro de 2007

Por vezes perco-me quando encontro o mar. duvido tudo,,, só o som do búzio me sabe falar. Não diz, não cala, transforma-se em ar

Ah,,,fosse eu a raiva deste mar-animal
e
saberia de cor, a cor deste azul-sal
que se entranha,
estranho, no abismo que se fende
neste sonho, real
de ser nuvem-sangue,
que se passeia
cega
no areal…
( para que fique claro
e
não se duvidem das cores que pintam e dividem as palavras, o areal que se diz, está encoberto de sementes de girasol que alimentam o farol, de amarelos queimados pelas estrelas que dançam e velam lentos, quais bailarinas vestidas de lençóis, coloridas de ventos)…