31 de março de 2007

quando (te) oiço, (os) sussurros

Por vezes ( poucas…talvez…) lembro-me de ti. Não dos olhos, tão pouco do sorriso. Das palavras! que dizias no silêncio do sol, como poesias (pétalas de borboletas?). Lembro-me dos passos que dava a ouvi-las no vento ( búzios da floresta?). Por vezes( poucas…talvez…), sento-me na estrada a desenhar-te com a cor das estrelas, outras fecho os olhos e reconto todas as histórias que me contaste e que se perderam nos verdes das árvores.
Hoje vi-te. No reflexo dos cristais de chuva….

polemógrafo do eu

Caidos no chão ( como gotas de chuva), estão os fragmentos de um homem-fantasma sem sombras. Estilhaços de pólen-de-um-olhar-em-sépias que se apressou a esconder-se nos reflexos da luz.
Caído na terra.
( semente?)

barreiras visíveis
ou
a invisibilidade de um labirinto
ou
um horizonte que nos atropela
( vale do sorraia-março 2007)

30 de março de 2007

viajo incógnito. de mim. como quem muda de pele e leva o olhar. percorro um vazio,
como quem sonha...

Os sinais de um retrato

A cor: a cor-vermelho-sol representa os dois estados de alma que o protagonista encarna e tem o mimetismo do ciclo da vida. São cores da manhã e cores do ocaso. A manhã representa o novo, o caminho, a descoberta; o ocaso, o fim da etapa, o cansaço, a relexão sobre o visto, o sentido, o desenhado.
O chapéu: a dualidade entre o antigo, as raízes, o passado, a memória, e o transportar dessas raízes para o sentir, para o poema do existir, desenhado no negro de Chaplin ( homem ou personagem?).
Os olhos: os olhos não o são. São olhar. São o alimento da personagem ( essência do existir, uma espécie de sol interior que aquece mas não cega. Podiam nem seque ser visíveis, porque o olhar só o é (visível e inteiro) para o próprio
O colarinho largo: é o menino em fato d’homem, é a liberdade de poder sempre crescer, até ao limite da vida ( porque tudo tem o limite do UM).
O laço: é o poema, sem versos. Podia ser uma borboleta, ou uma papolila, mas isso obrigava a muitas cores, assim fica a incógnita e a liberdade de se imaginar as cores de cada um, para a poesia de mil e um sentidos.
o sorriso: discreto, quase um beijo, representa a serenidade com que ele olha o eu, e o tudo.Esconde a irrequietude que lhe vive para além do olhar.
Finalmente o nome: (há retrato sem nome?) Jeremias ( Jeremiah no original ), porque nasceu assim, desenho e personagem de banda desenhada, anti-heroi como convém, rebelde e livre, personagem de papel em cores directas, aguarelas, quase sempre. Podia ser outro, Corto Maltese, mas isso era uma responsabilidade acima das suas próprias capacidades....

26 de março de 2007

Nos passos que fundo na terra, oiço sussurros que me olham ( divertidos?)

Tenho no jardim arvore estranha ( sonhadora?).
dá frutos em forma de pássaro e é bizarra no falar ( não assobia escondida no vento, como todas as outras que falam,
gesticula com cores que esconde nos verdes e nas sombras...)

23 de março de 2007

Hoje ando a passear os pássaros,,,andam por aí sem trela a saborear o sol e os azuis ( divertidos-de-amar) ,
Ah, como é difícil segui-los no voar, entre as asas de uma andorinha…

22 de março de 2007

receituario para um esboço de sorriso

Pequei em sete folhas caídas ( sete!
com veias de rios secos. dormiam no chão, mortas de cansaço e de verdes
). triturei-as em pó (poeira d’arvore…
plátanos? castanheiros
?).
juntei água e moldei tudo, com vermelhos, amarelos e azuis (transparentes
de vazios), depois,,,depois larguei o molde no voar ( pássaro de mim,
colibri-do-mar
)

19 de março de 2007

abro a porta de uma noite, como quem desenha um eclipse

Canso-me de escrever o escuro ( na noite da alma), pinceladas ( sórdidas) de mim, como quem se estilhaça no eu, à procura de um fim…
Ah,
esta mania de levar nos passos a alma, vai acabar no abismo-profundo-do-silêncio, pendurado na solidão de um sonho que se perdeu dos azuis voláteis…

14 de março de 2007

Sentei-me na terra, escura de sombras e de espantalhos, resguardado na luz que escapa dos orifícios dos botões,

(olhos em madrepérola-púrpura alinhavados na estopa que lhe dá a face, com cordas de harpa)

Esqueço. (Tudo). Na memória-dos-sorrisos, como quem cheira o vento e parte ( sem sentir o perigo
do desnorte)
no sentido das estrelas que embalam ( num abraço
de morte)
os pássaros que esvoaçam nas vestes ( amarelo-trigo) de um palhaço de olhos tristes. Esqueço,,,tudo…e vou descobrir os cristais que desenham as lágrimas...

13 de março de 2007

corro no vento de um sonho que se desenha em sépias, na desventura de reinventar a fronteira do abismo

e colori-lo nas sombras do abutre que paira suavemente belo nos silêncios do existir

Queria sentir ( na exaustão de mim) a intensidade do escuro, Mergulhar para além do negro e deixar-me deslizar ( qual rio) no eu que se transmuta na noite que proíbe a luz e o cio!

12 de março de 2007

as palavras choram em soluços, sem cor nem vontade. Pedaços de um nada que se engasgam na voz

as palavras,
têm silêncios de revolta.
as palavras,
estão presas em labirintos de aranha.
as palavras,
perdem-se submissas na multidão que lhes sangra os sentidos.
as palavras,
marulham como ondas num mar de vazios.
as palavras,
são terra arada num sol de sementes.
as palavras,
vão em passos perdidos do Um, em novelos de horizontes…

9 de março de 2007

Há abismos que nos empurram para a vertigem do renascer com a dor de quem suicida o olhar

Cavo ( fundo), com uma enxada que me pesa nos braços, a escuridão de uma cor envergonhada, como quem sepulta uma semente abandonada de destinos…

6 de março de 2007

5 de março de 2007

Desenho com os passos que os olhos levam, a calçada que sobe ao Chiado, onde me perco no labirinto de mim, entre livros e memórias...

Subo, lento a calçada da cidade ( em retrato a preto e branco, granulado, com reflexos a Sol),
Arrasto comigo as pedras de calcário e, subo lento, envergonhado,
cego de gente que caminha a meu lado( em silêncios áridos, calcados),
vou lento de olhar vendado, nas asas da memória que voa entra as asas de uma pomba-gaivota... Com os olhos de basalto subo, ao alto a calçada, abraçado ao vento…

2 de março de 2007

...(III)

Procuro, na cidade, um espaço de luz e gaivotas. Escolho nos passos a sombra, o silêncio, para sentir o movimento, na pele...
(respiro,
como se mergulhasse na fantasia de existir)

1 de março de 2007

..(II)

Tacteio, cego
o teu rosto,
gravo a imagem,
pele com pele, Onda de vento que aquece um suspiro…

(Por vezes, só ás vezes, paro nas palavras, na escuridão do sentir para te deixar passar sem perfume e fico ( só ás vezes) a sonhar…
Por vezes estremeço, ou esqueço o que vi e volto a acordar ( recordar?) no olhar que já vivi,
Por vezes, só por vezes, esqueço-me de ti…)