24 de setembro de 2003

a máscara

Há mascaras de várias cores, para vários momentos e ocasiões.
Todas elas enfermam de serem sombras que filtram a expressão e o sentimento, mas nunca o olhar.
Tenho a tendência de, ao acordar, como quem coloca os óculos para focalizar a existência que o rodeia, de me encobrir com uma máscara e andar com ela hora após hora.
Triste hábito de quem se procura e coloca os olhos no chão com medo de fixar as cores que o dia lhe oferece. É uma espécie de cobardia de quem se sente bem na escuridão, porque aí não tem necessidade de focalizar o olhar. Mais do que uma defesa, é uma fuga. A máscara é o peso da fantasia que nos alivia da angústia de não saber o que fazer, tal é o estado de desorientação que nos imprime o dia.
O sentimento de fuga adensa-se com o cansaço, é verdade, mas também é verdade que a fuga não nos leva a lugar nenhum, nem sequer nos serve de consolo.
Isto tudo, para chegar à conclusão de não saber se o que escrevo, o que pinto ou o que sonho, sou eu, ou os olhos da máscara que se me cola ao rosto.

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