31 de julho de 2020

apneias

Desnorteio as palavras, entulhando-as nas entralhas da terra,

enlouqueço-as de sombras,

sugo-lhes o ar em estrangulamentos canibais e subterrâneos,

asfixio-as em pesadelos noturnos,

e quando implodem

sôfregas de respirações,

vulcanizam poesias em mil matizes de cor que não param de dançar em rodopios ciganos…


30 de julho de 2020

geologia do olhar

No abismo dos passos, estão rochas-barbaras, fossilizadas em veias de basalto,

rios, vazios-de ecos,

medrosos da queda que lhes labirinta (antecipa?) o VER!


29 de julho de 2020

cartografias

Escrevo uma criança,
com traços de poeta-pintor,
como se traçasse a cartografia de um sonho a flutuar futuros...
no cume geodésico-da-alma, 
está ela,
inteira,

a semear sorrisos trocistas ao escritor que a desenha…

28 de julho de 2020

olarias de ventos


Moinho memórias em farinha do tempo,
moldo, não elas,
ele,
e transformo-o no vazio da noite,
em flutuações transparentes,
fragmentos (estilhaços,
espelhados?)
e comtemplo-o renascido de mim.

27 de julho de 2020

desenho de um rio que desagua em mim


Desenhei uma estrela,
uma só,
a giz,

quase pólen-de-gira-sol, (no ar),

a estrela nasceu da fonte-do-esboço,

bailarina!

e em instante-sem-sombras, 

(um só) 

começou a dançar no reflexo das lagrimas profundas da terra,

a traçar o caminho-do-rio,

com a suavidade de um reflexo-lunar de uma borboleta-de-água,
no mar-infantil-de-mim...
 
(guardador de destinos inacabados)


nota: um rio que não desagua no mar, é um rio que morre na imaginação alterada de um observador-pintor, que se esqueceu da cor, ou simplesmente um guardador de destinos inacabados...

26 de julho de 2020

feridas


Não há paisagem,
árvores,
moinhos,
telhados,
montes,
nuvens,
papoilas,
ninhos,
ou mar,

há um vazio imenso

e uma gaivota na cicatriz-do-olhar…

25 de julho de 2020

liberdade


Sento-me na bruma do mar,
a escrevinhar o marulhar no vento,

com o olhar agrilhoado no cordão-umbilical-do-sonho,
a sorver esta liberdade infinda de ser segredo-de-mim..

24 de julho de 2020

expirações

Fecho-me, a expirar memórias,

vejo-as,

para lhes desenhar o voar…

só assim as oiço (sinto?) nos passos,

só assim me vejo arvore,

raízes

e átomo

(esculpido pelos ventos)

 

ouvir /sentir as memórias = ver-lhes os contornos, as linhas, as formas, é ver tudo desmoldado sem o escopro do tempo 

23 de julho de 2020

inclinações


Procuro-me,
perigosamente debruçado sobre mim,
quase em (des)equilíbrio,

 (instável)

procuro 

(ávido),

as gotas-de-pó que ofuscam o brilho-do-sonho-do-peão-de-corda que se escapa ao universo, 
a rodopiar na palma da minha mão, 
ao som do riso-dos-olhos-do-menino que se encanta com o sentir.

22 de julho de 2020

silêncios estrangulados


A solidão morre espantada perante o abismo,
definha no eco de cada grito que renasce na serenidade,

(que a estrangula em silêncios moribundos)…

21 de julho de 2020

(des) equilíbrios


no equilíbrio das águas traço um fio,

linha incolor que ergue fronteira-às-sombras,

no de lá,

estou eu,
a escalar cumes (quimeras?) invisíveis...

20 de julho de 2020

desertos


Vezes muitas, sinto a alma-seca-de-deserto(s), 
a dançar nas dunas, 
que preparam tempestade(s),

nessas vezes,

mergulho  nos labirintos da névoa a desenhar futuros, para hidratar sonhos e  manhãs tatuadas de aconteceres noturnos…

19 de julho de 2020

paradoxo, ou a matemática do Eu



Sou meio gaivota, 
meio andorinha-do-mar, 
meio beija-flor,
no meio de mim,

o resto,
que me faz inteiro,
anda por aí...

18 de julho de 2020

teias


Passeio-me na cidade,
bordada em veias que ejaculam sombras de passeantes escondidos no olhar,
vagabundam sós, 
ensurdecidos por cada uma das vozes que os atormentam no sono-dos-sonhos,

confusos por não descobrirem qual  das vozes é a sua sombra, 



(como inseto abraçado na sua teia, que certamente grita, 
sem sons, 
adormecido na seda-da-sua-morte)

17 de julho de 2020

na sombra do rosto


Pinto-te para-o-de-lá-do teu olhar,
na sombra do rosto prolongado-do-tempo,
olho-te inteiro!
(vazio de mim)
e vejo-te a respirar nevoeiros, odre de pegadas-de-sol-nascente.

16 de julho de 2020

cidade violada

O dia viola-a-noite, num sussurro crescente de ecos e de passos,

e eles,

a calçada, adormecida na sombra-do-dia,

estilhaçada em fragmentos dos pólenes-viúvos dos jacarandás... 

15 de julho de 2020

oração de um contador de histórias


as mãos choram ,
gotas-lentas de papoilas que levitavam aprumadas ao céu, 
à procura do aconchego das estrelas pintadas em azuis-menino, na fronteira dos olhos...


azuis menino= azul do céu em desenho-janela de criança, 
fronteira dos olhos= imaginação na ausência do tempo
ausência do tempo= sem idade

nota: um poema com explicação , é um poema agrilhoado  pelo autor, devia ficar enrugado em bola de papel , longe da cor do lápis- lazúli  , com que se desenhou o céu

14 de julho de 2020

a noite-das-ruas


A noite espreita as ruas-da-alma
(labirintos?),
em sussurros que espreitam as janelas-da-cidade.
as ruas
(dela?),
desaguam na-fonte-do-dia a respirar amanheceres à espera do som-os-passos
(dos pássaros?)
Na cidade já não há pássaros
(passos?),
há pombos-morcego a pintar sombras de dedos-fumados na calçada,
fossilizada de suspiros e de rezas angustiadas.
Na cidade há velas que a levam
(a ela?)

à alma,
que se vagabunda nela!

13 de julho de 2020

enganos


a-fonte-das-árvores, tateia-me o poema, como se eu fosse raiz-de-outonos…
desenganem-se,

(palavras que se amortalham em tempestades),

sou sombra-oculta que se abraça ao mar,
alga navegante,
navio sem leme nem proa,
sou mastro e velas,
suspenso no ar.


10 de julho de 2020

caminhos (estreitos?)

Não tenho dor, no dorso de uma gaivota a galopar nos azuis-do-vento…
no ir,
não tenho carne,
tenho todos os passos
a voar

9 de julho de 2020

des(mar)gens

pinto as raízes-das-nuvens,
na ilusão-da-lagrima,
deslumbrado entre cada estilhaço-das-cores, que me abraçam o sangue a desaguar em barragem-de-sombras,

sem margens

7 de julho de 2020

grafiti


Isto de nos pormos a escutar os pulmões-do-sonho, como se lhes ouvíssemos as entranhas (palavras?) em conversas-purpuras, é uma espécie de luz-moribunda que nos desfoca a imagem das nuvens e da lua.
Conversar com o sonho, é como escorregar num funil de ventos-noturnos, entre as artérias-da-rua e nos pormos a pintar ecos (escondidos?) em jeito de grafiti multicolor, da qual só se percebe a linha do alter ego ( furtivo?) que a desenhou…


6 de julho de 2020

ondas


Tenho a pele queimada da espuma do mar, e o olhar cego-de-sombras, porque me atrevi a voar nas asas-da-alma,
fosse eu, gaivota-azul, 
a planar nos olhos-do-sonho, 
e não precisaria de me inventar, nem de me tatuar de onda estilhaçada no ar...

5 de julho de 2020

intrusos


Por vezes nascem árvores de pedra, escondidas nas fendas-da-sombra, a marujar  sangue da terra... que nos invadem os passos...

4 de julho de 2020

crispações


A memória ludibria a luz-do-tempo, 
cavalga nos poros-do-sangue e mimetiza sorrisos, em mãos que se crispam nas vísceras-do-mar, esquecidas de afagar a vida...

3 de julho de 2020

tatuagens

cinzelei papoilas brancas na pele-dos-olhos, qual gaivota a beber o vento-norte, e naveguei de passos vagabundos...

2 de julho de 2020

o-fogo-do-orfeu


vazei palavras ao fogo,
e sentei-me a desenhar (lento) os sons do-cicio-do-vento a trautear árias-de-pó-e-cinza…


1 de julho de 2020

esquecimentos



fecho-me corrompido ( enclausurado?), 
com palavras a borboletarem-me labirintos.

esqueço-me em rios, que desaguam esquecimentos e procuro-te,
cego,
da palavra que te deu o nome,
e
já no fim do fim-da-noite,

renasces cristalina em mim,
de nome todo, inteira de ti.