30 de março de 2006

do avesso

(fotografia de Patrícia Sucena de Almeida)
Caminho no espelho que me amarra na sombra, preso nos gestos… olho-me invertido, quase sem grito e desenho-me revolto de não me saber no eu que me desordena o sentir e o VER…

29 de março de 2006

ao vento, com a loucura de Ser, ou a confusão de me passear vazio

Ah, esta loucura de me passear vazio, à procura do abismo que me persegue em sombra, vai acabar em aguarelas cinzas, matizadas de pétalas de papoilas-novas, em forma lágrima de palhaço que ri, a navegar na Nau Catrineta, com as velas a bolinar descobertas, nos labirintos que me preenchem o eu…

NOTA: não podia deixar de ser confuso, até para quem escreve, pelo que se aconselha a não leitura e deixar que o dia passe...

28 de março de 2006

trilhos...

lancei uma pedra ao rio,
como quem se desembaraça do coração,
prendi-a
no leito,
no fundo do lodo,
(fria),
com as minhas próprias mãos,
tatuagem de um trilho,
ferida,
(rasgada no peito,
de um vagabundo de estrelas azul-mar
)
nas aguas que lavam
a dor
de quem respira
o (a)mar
com o sentir do olhar,
em jeito de oração…

27 de março de 2006

sem paragens

que o tempo não pare,
nem um segundo
ou momento
que corra no seu silêncio
e
me leve no eu
qual cavalo sem medo…

ah, esta ânsia de ser futuro,
não hoje,
nem ontem,
AGORA!
JÁ!
livre do amanhã que me prende o presente….

25 de março de 2006

sem fado

sonhei com uma guitarra a escoar todas as cores de uma lágrima,
selvagem,
sem fado...
fecho os olhos, para lhe sentir as águas-de-um-som,
que não é canto,
nem poesia,
corre qual rio, sem margens,
nem lado,
suspiro de ninguém,
pura fantasia,
som de além
que chora
sozinho
calado…

23 de março de 2006

(des)orientações

sou marinheiro de nuvens
que,
cansadas
se deixam cair, exaustas de serem sonhos-de-anjos-sem-asas...

22 de março de 2006

ilusões do Eu

Abri um abismo e sepultei todos as sombras-que-me-habitam-em-fantasmas-de-névoa-cinza, como quem se ilude que semeia primaveras…

21 de março de 2006

apenas

desenhei lágrima (desamada) do avesso,
uma
(só),
parecia cristal...
quase ,
caixa-de-cores-aladas,
escondida num vitral…
(andorinha-do mar?
sonho?)
apenas uma historia, que fugiu de um lápis a voar

É obrigatório Ir...

Onde o obrigatório se transforma, necessariamente num passo voluntário de ir ouvir sons contemporâneos sonhados por quem os pinta...

4º Workshop Gulbenkian para Jovens Compositores Portugueses

Dia 24

Jaime Reis
Reificação espectral

Hugo Ribeiro
Impromptu

Teresa
GentilLaevus
Silens Clamor

Gustav Mahler
Adagietto da Sinfonia Nº 5

Dia 25

César de Oliveira
Chiarezza lontana, respiro affanoso

Luís Soldado
Uno, Nessuno e Centomila

Bruno Soeiro
Unveiling anguish

Béla Bartók
O Mandarim Maravilhoso
ORQUESTRA GULBENKIAN
19h00
Grande Auditório

20 de março de 2006

guardador de gritos

guardei toda as chaves das portas que me labirintam,
numa árvore,
sem raízes…
nos (des)passos,
que me antecedem,
mergulhei no vazio de mim…

insurrecto de existir…

17 de março de 2006

como quem cheira terra-humida-de-sol

vi o sol chorar
e
a espalhar lágrimas de bolor-colorido por entre os vazios do universo, como quem semeia pirilampos-nas-noites-escuras-dos-sonhos-inacabados, em searas-de-grilos…

16 de março de 2006

as quietudes de um dia

Hoje , (só)
a vida correu-me serena nas veias.
Devagar,
como um rio que se espreguiça ao Sol, sem pressa de chegar ao Mar

15 de março de 2006

as deslembranças

a (des)memoria tem esta virtude ( mentirosa? ) de inventar o tempo,
e
d’o brincar,
colando-o,
sem lhe pedir autorização ou obediência,
(adiando-o?) ...
[ganha uma espécie de liberdade que navega,
sem verdade
nem limite,
que transpira na pele, misteriosa-de-ausências,
( carente?)
como uma flor-rebelde
que se fecunda
ao sol
em voares
(suspensos?)
lentos
de um caracol,
pintado ,
irreal,
num desenho,
sem ponto final]

nota: devia existir um itálico inclinado… ao contrário, uma espécie de portucálico…
Informáticos, Inspirai-vos!
( assim sou obrigado ao que não gosto. usar parênteses rectos, como se coubesse matemática no que escrevo)

14 de março de 2006

o nascer de uma pedra

nasceu uma pedra!
no chão!
assim,
do nada,
sem mãe
pai,
ou irmão!
intrigado,
peguei-A, como quem sente...
( de leve )…
estava quente!
( só podia ser do coração! )

(...estranho mundo,
este,
onde as pedras se vestem de pele, com o existir... )

13 de março de 2006

ensinar o desenho

Papá, Papá,
Ensina-me a pintar com as lágrimas do Sol!
Ensina-me, depressa a pintar um Sonho, com a intensidade-inteira-de-quem-acredita…
Ensina-me Papá!
Tenho a urgência de um-agora, não vá Ele fugir…
Ensina-me papá, a desenhar a alegria-de-inventar-o-Universo-que-me coube-no-existir…
É tão urgente, papá!

12 de março de 2006

segredos

guardei um segredo no ventre d’um fruto,
e
larguei-o
ao vento…

( ah, porque nasci na ignorância de saber desenhar a flor que nasce semente-do-que-me-vive-no coração!)

11 de março de 2006

aula...(des)conseguida

passei o dia a ensinar o mar a ser gaivota…
levantava-o aos céus,
e
largava-o,
(divertido)
mas,
teimoso
(e
livre),
transformava-se
em cabelos-de-chuva,
a fingir-se
de espuma
alva-de-onda,
branca-de-ave…
(gaivota?
nem uma!)

10 de março de 2006

cousas de aves ( ou de voares...)

o céu desceu
e
levou-me,
pendurado nas nuvens para a terra-das-histórias-desenhadas, onde os homens se confundem com um violino-vagabundo-a-imaginar-se-menino…
(ah! fosse eu,
apenas o que sinto,
e
era de certo,
um flamingo,
peregrino…
)

( o autor destas palavras escritas, tem quase sempre relutância em dirigir o sentido das palavras, mas vezes há em que ele, tem o seu próprio dicionário, escrito com o tempo, e direccionar uma palavra de vez em vez, é cousa que se perdoa, por isso aqui fica que terra-das-histórias-desenhadas, se refere a nuveares, onde todas as histórias desenhadas são aquelas que se vivem no olhar, sem a clara obrigatoriedade de serem Vistas, bastando tão só serem sentidas. donde se deduz facilmente que é terra-de-todas-as-hitórias-possíveis)

9 de março de 2006

se...

fosse hoje primavera
e
não estaria aqui a guardar palavras,
andava por ali,
eu-próprio,
a pastorar todas as cores,
que dançam,
a fingirem-se azuis!
fosse hoje dia de luz outra,
e
era
eu-o-rebanho-mesmo,
mascarado de flores-de-iris,
a voar sem ermo
nas asas de um colibri…

8 de março de 2006

gosto

Gosto quando a vida se transforma
( resume,
sintetiza )
numa
( simples )
gota de chuva que guarda todo o mistério de um Universo inteiro por descobrir
( é o meu gosto,
mutilado-de-passados,
mas
que se maravilha constantemente em adivinhares… )

uma gota de chuva, carrega no seu peso, toda a idade do Universo!
( por isso cai! )
A queda de uma gota de chuva, tem todo o movimento do Universo!
( por isso gosto! )

7 de março de 2006

espera

sento-me
de sol
e de horizonte
à espera
ávido de descoberta(s)…
qual predador
de caça,
espero,
as palavras
vindas-da-primavera
sem que nada faça,
até que nasça,
história,
verso,
ou cousa outra
( quase nada )
que satisfaça
esta procura
de poeta
sem palavras…

6 de março de 2006

dançares

as árvores dançam,
loucas,
de serem verdes…
dançam,
abraçadas ás nuvens
embriagadas de “sedes”
bailarinas?
não!
essas,
já partiram,
enfeitiçadas de “alices desenhadas em baralho de cartas”
(d-i-s-s-e-me,
em segredos,
borboleta-avó,
pintada de violetas,
que voava,
só,
dentro de mim)

Nota: sem correlação qualquer ao escrito ou ao sentido: “ as borboletas são pólenes a esvoaçar com desenho

5 de março de 2006

perguntas, medidas, sem tempo...

Apetece-me falar de tempo. Hoje .( seja qual for o significado palpável ou etéreo do “hoje”). Do tempo. Contado. Medido. Apenas porque ele me apareceu lúcido no destempo. Claro. Límpido, de se me mostrar inteiro!
Um ano. Um mês. Um dia. Uma hora. Um segundo. Medidos , todos os fragmentos entre círculos. Voltas do mundo sobre si mesmo. Rotações do nosso-pequeno-mundo…
E o sol?
Um ano de sol, quantos anos são do nosso-pequeno-mundo?
E um ano da Via Lactea, quantos anos são do nosso pequeno e ínfimo Sol?
Já imaginaram quantas eternidades são um segundo ínfimo da nossa Galáxia?
Já imaginaram como tudo é um instante ínfimo, que cabe numa eternidade de olhares e de vidas que se sucedem?
E um segundo do Universo? Um instante ínfimo que nos vive longe e simultaneamente intimo do nosso sentir, do nosso eu?
Ah! Como somos pequenos se não tivermos a ousadia de criarmos o nosso existir, na fantasia de sermos simplesmente poetas, cousa única em cada um de nós!
Sobre que eixo do destino gira o Universo que cabe inteiro, dentro e fora do nosso Eu?
Não sei! São tudo instantes do destempo!

3 de março de 2006

(im)possibilidades

bati à porta da memória-da-alma,
mas,
perdi-me no labirinto das lembranças do eu que se funde nos instantes do tempo-sem-sementes-possíveis…

2 de março de 2006

pinturas rupestres

Gravei as minhas pegadas no chão, com todo o peso das mãos ( tão diferentes que são, daquelas que pinto quando sou asas-de-gaivota-de-Arlequim!)

1 de março de 2006

a viagem...dos dias

os dias passam,
mortos!
sepultados no (des)ver das cores que insistem em não se transformarem em flores de jardim selvagem…
os dias passam,
em
i-m-a-g-e-m
que se perdeu na
margem,
entre as asas gigantes de uma papoila,
que voava sem raízes nem sementes,
mas que ia,
( sempre )
c-o-n-t-i-n-u-a-m-e-n-t-e
em
viagem!