30 de junho de 2020

(des) beber


vesti o céu do avesso e pintei-o de trigo e sol,
triturei-o-tempo com o ranger dos dentes e soprei estrelas-de-sabão,
fechei-me-cego,
e abri a porta para beber-a-noite-no-devasso-do-dia,

ébrio de cores e ventos, mutilado no (des)ver,

de um trago só!

29 de junho de 2020

nu-de-mãos


tenho nós enforcados no olhar,
presos no sangue das árvores que oscilam-invernos
e
passeio-me nu-de-mãos,
a flutuar no sol... 

(como quem dormita as pálpebras musculadas de mares azuis)

28 de junho de 2020

respirações


A luz estrangulada da noite abraça as árvores, que dançam de dia com o-vento-dos-pássaros.

De noite as árvores respiram como os velhos, que inspiram sôfregos todo o ar dos olhos…

27 de junho de 2020

dimensões


o espaço, é cousa onde só o sonho não cabe, como uma casa de bonecas, brincada por criança... 

( a criança é gigante, e o universo simples sopro-de-pó…)

26 de junho de 2020

ou um mundo?


as pedras são sombras, pequenas, por vezes,
quase lágrimas (ardentes?)
as pedras, sou eu, a olhar um quase nada ( ou uma semente?)

25 de junho de 2020

uma questão de linhas

tenho dificuldades em desenhar uma linha direita
(recta),
perco-me no inicio e desencontro-me com o fim...
mas se a desenhar , 
livre,
aqui e ali, 
torta ou curva, 
fico entretido ( maravilhado?), com o prazer de não me saber no desenho e levo (pinto?) em cada ponto, os pontos que iniciam e acabam, 
desta forma ( livre de ser desenho), cada um deles é instante, onde um, cabe no outro, e é nesse caber em cada um que me desenho , torto, nos passos que dou.

desenhar linha recta é uma responsabilidade que não cabe nos meus sonhos!

18 de junho de 2020

sem coragem

por vezes sinto-me nuvem, 
quase chuva, 
quase lagrima, 
mas sem coragem
de cair
ou de voar...

17 de junho de 2020

esculturas

esculpi um esqueleto (inteiro!)
com todos os pormenores.

Todos! (no branco e no negro)
ponto por ponto,
em perfeita harmonia (quasi sem peso!)
por ali ficou ,
suspenso, (quasi alado!)
a esculpi-me a mim... ( desfocado!)

16 de junho de 2020

estrelas


andei à procura de estrelas, em nevoeiros,
(como um jogo de crianças),
procurei não as estrelas que nos orientam no céu, assim fosse  saberia por onde ia o sentido dos meus passos, 
mas aquelas outras, 
que são pólen de sonhos.

(semear sonhos como uma borboleta, é como pintar um denso nevoeiro ao som dos violinos-do-vento…)

15 de junho de 2020

semeando sonhos


Esvoaçam entre o olhar (entre o horizonte-da-alma e o horizonte azul do mar) uma multidão de aves,
várias, 

multicolores, a brilhar entre sombras,
pássaros, gaivotas, águias e beija-flores, num chilrear infindo, como se estivessem a engravidar sons de palavras-mudas…

14 de junho de 2020

suspenso

Estive suspenso, 
no tempo...
foi a vida-do-tempo que andou,
não o tempo dela (vida), esse, ficou suspenso em cada palavra que não escrevi…