Engracei com uma pedra. Não pela cor, nem pela forma, mas por estar ali no meio do meu andar.
Olhei-a, em conversa (daquelas conversas que temos com todas as coisas que nos entram no olhar e ali ficam a provocar-nos, seja pedra, rio, nuvem, quadro, flor ou coisas outras), mas ela mandou-me seguir caminho.
O meu parar incomodava-a “ Sai! Sai da frente! Sai! Não ouves?” Repetiu-se em soluços simpáticos mas insistentes.
Fiquei intrigado, porque não a imaginava com olhar. Pedra que é pedra, não tem frente nem costas quanto mais “olhar”.
Fui. Na volta tornei a vê-la e parei-me provocador, mas não me disse nada.
“Sonhei”, pensei “ lá estás tu com as tuas histórias”, disse-me. Fui com toda a intenção de ir, mas fui interrompido por um sussurro, “Espera! Fica aqui comigo! Preciso de ti!”. “Para quê? Porquê?”, “ Cansei-me de ser pedra! De manhã quando passaste por mim, estava a olhar para aquela papoila, aquela que ali está, a olhar para mim. Quero que me transformes em papoila!”, “Mas tu nunca serás uma papoila! Serás sempre uma pedra!”, “ Tu também já foste menino e agora és homem, porque razão não posso ser papoila?”
Agarrei nela e esculpi-a, papoila…
O sol encarregou-se de lhe dar cor…
10 comentários:
Quem me dera ser pedra no caminho de um escultor…
Ou tela, no caminho de um pintor…
Ou madeira nas mãos de um carpinteiro hábil e engenhoso, que me desse forma.
Não interessa a forma.
Apenas a transformação.
Beijo para ti, que transformas pedras cansadas em papoilas eternas, com afago do sol.
E quando ela se fartar de ser papoila?
Esqueci-me de dizer que este foi dos textos (sentires) teus que mais gostei. Bom feriado again. Somitico...
Quando apanho com estes textos teus assim diante eles quase sempre me são(acaso?!)momento! e hoje este transformar, Almaro...ai hoje! foi este de fazer de pedra flor e do desejo dela e do escultor...um mais que sonho um de nascer, de vida! que mais é ela que saber de pedra no caminho ademais de a saber ouvir como pedra que é, tal qual, saber que pode ser flor e ajudá-la a ser?!
Beijinho e o meu muito obrigada!
Quando apanho com estes textos teus assim diante eles quase sempre me são(acaso?!)momento! e hoje este transformar, Almaro...ai hoje! foi este de fazer de pedra flor e do desejo dela e do escultor...um mais que sonho um de nascer, de vida! que mais é ela que saber de pedra no caminho ademais de a saber ouvir como pedra que é, tal qual, saber que pode ser flor e ajudá-la a ser?!
Beijinho e o meu muito obrigada!
por detrás da sombra
da pedra
por baixo da sombra
da pedra
por baixo por detrás
do silêncio
da pedra
o silêncio da pedra
antónio ramos rosa, respirar a sombra viva
respirar a sombra viva ! fantástico, não ? engraçar com uma pedra ? claro... quantas vezes o seu silêncio e a sua sombra nos gritam? transmutações da memória... maria papoila...
menino-papoila?
homem-pedra??
cansado de ser homem???
não te canses de ser poeta!!
aquele abraço
nani
E havia uma concha. atrevida e descarada...que um dia percebeu que o seu lugar era nas profundezas do mar, de onde nunca devia ter saído...
Do tamanho que quiseres, é um beijo para ti,...CONCHA AZUL
Ja tinha saudades de te ler. Mas há alturas em que não dá mesmo. Pleno de sonho e irreverência (fazer de uma pedra papoila?) o teu texto. Pleno de ti, acho eu. Beijos
A maior parte das pessoas não compreende a diferença entre SER triste e ESTAR triste!...
às vezes apetecia-me ser pedra, sem olhar, sem falar, sem pensar...apenas permanecer...
beijinho, Almaro
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