25 de agosto de 2013

Reencontro com as memórias de um liceu -ato 2


Pôr em ordem as cartas do tempo, é tarefa árdua, quase de cartomante, porque os dias se baralham e é necessário procurar magias para tentar por tudo em ordem: sombras, sorrisos, angústias e choros.

Não foi necessário invocar deuses ( lusos…que a troika ainda não existia!) endonveilicos, mas a tarefa exigiu concentração para separar fantasias e cantares heroicos, da realidade vivida, nessa nossa iniciação revolucionaria .

Fiz de facto um esforço para tentar separar vivências do 5º ano, das que se seguiram noutra turma de 6º e 7º.
Os intervenientes eram quase todos diferentes e as tropelias dos pré-adultos do 6º e 7º eram mais maduras, menos inocentes porque já pesava nos ombros ( só de alguns porque eu pressinto que tive sempre os ombros leves…) a responsabilidade de sermos finalistas, (não fosse a chegada do fantasma propedêutico , que nos iria obrigar a uma paragem de um ano para uns, dois para muitos, e caminhos outros para outros tantos).

( Estou mesmo sénior!!...não me obriguem a prenunciar a palavra…Velho! “Macacos me mordam” ( diria o velho Haddok,) lá estou eu a divagar! Mas sou meio marinheiro, e o que me dá gozo , entre velas enfunadas, é mesmo deixar-me ir na deriva das ondas e das nortadas, sem rumo, apenas ao sabor do ir…perdido só de horas, porque voo, inteiro de mim.)

Centremo-nos na estória e deixemo-nos de navegações!!!! ( senis?)

A estória, (se é história), já que apenas restou o momento, começa como acaba um grande incendio, uma pequena faísca e sem que ninguém se aperceba, tudo toma proporções gigantescas.

O cenário ( envolvente psicossociológica…) é  .um pós-verão-quente-de-75.

Imagine-se ( Estou a ouvir John Lenon!!, vícios de idade...)
uma sala de aula
( na perspetival do professor, neste caso professora  de francês , de uma jaula?)
cheia de alunos ( animais?),
pós segundo toque, sem que a professora ( domador?) tivesse chegado com a respetiva dose de sapiência ( sedativos?)…

Retrate-se ( relembre-se!) a dita professora …jovem , ( teria menos idade que hoje tem os meus filhos ehehehh) , inibida e de olhos descontrolados, provavelmente por ter que ter “ olho no Burro ( eu?) e outro no cigano ( Paulo Solipa?)”

( que me desculpe a Sr.ª  Dr.ª Professora, a maldade juvenil que lastrava naqueles tempos de foices desembainhadas e tropelias várias, que como não me canso de dizer e de me mentalizar, deve ter sido um verdadeiro romance de Dante para quem pretendia , em ato patriótico e voluntarioso, ensinar Francês aqueles “selvagens” revolucionários ou não. Diria mesmo ( herege!!!) era coisa de por os olhos em bico!!!).

Continuando a narrativa (sem pintura, nem Botticelli),
julgo que a ideia partiu do Solipa e que eu ( fiel seguidor, provavelmente por admiração de tão ousada e desinibida criatura, e na tentativa de encobrir a crónica cobardia que sempre me atormentou)  logo apadrinhei tão luninosa ideia, colocando-me de imediato na proa de um toboggan improvisado ( secretária-de-aula virada ao contrário) e quais precursores do atual  ...”parkour”, ousámos descer as escadarias ( a nossa sala era no 2º piso) agarrados ás pernas das ditas ”skateárias”, sem pensar nas sequências , nem na resistência dos materiais ( matéria que seria meu objeto de estudo muito mais tarde!  Que culpa termos nós de isso ser matéria universitária???), nem na (im)probabilidade  ( que também se estudou mais além! Que culpa tínhamos nós de nos ensinarem francês em vez de probabilidades???) de vir alguém a subir as ditas escadas, muito menos, se esse alguém era a própria domadora, mais aterrada que nós, da descida vertiginosa sem possibilidade de travagem , fosse ela radical ou não!

Terminou a festa, numa sala a ouvir  sermão democrático-de-sua Excelência-e-camarada diretora da escola, em vez de nos terem mandado para casa (expulsos?), chamado os nossos pais , que nos dariam provavelmente mais que uma reprimenda e nos poriam, (sem duvida da parte que me toca…) os olhos em bico!!!!

Aproveito esta breve crónica da nossa iniciação precursora do “parkour” para pedir desculpas à nossa professorinha, da maldade a que era sujeita nas aulas, do sarcasmo a que era constrangida, por não sabermos controlar as nossa hormonas, ( afinal eram reações químicas de difícil controlo …coisas que mais uma vez afirmo, ser matéria universitária e cientifica e não programa liceal!!)

Fica assim um aviso aos nossos inúmeros ministros de educação ( passados e futuros) que pensem na importância de  introduzir estas importantes matérias já no secundário, resistência de materiais ,probabilidades e neurociências,  evitando assim, descontrolos comportamentais a uma juventude irrequieta que hoje provavelmente , porque já praticam o dito parkour em sitos mais apropriados( ou não!), aguardariam ordeiros , mesmo depois do segundo toque, tão importantes ensinamentos que os preparariam por certo, para a paciência infinita. tão necessária para as filas do centro de emprego… verdadeiros locais de peregrinação ( imigração?) do nosso quotidiano juvenil .. ( e outros!!)

ps: o dito texto , como todos os que são escritos com os meus olhos, seguem a ortografia do próprio, com acordo , sem acordo , mas decidamente acordado entre mim e a minha consciencia, nem sempre criativa...

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