5 de setembro de 2005

alísios

Irrequieto-me nos alísios de um dia quente que se esvai em gotículas dançarinas,
folheio a vida em soluços enleados numa aguarela cinza de sombras amarelas
e
o espelho finge-se de mim,
mas estou evaporado em silêncios que ecoam batuques-de-fogo e fumos-de-alma.
O dia esculpiu-se xistoso e o vento levou todas as cores num passeio sem retorno…

Há vozes ao longe…

Minhas.

Musicas e lamentos,
ladainhas antigas…
Só o barco me navega,
bailarino,
lento…
Já não sinto.
Inquieto-me e mergulho,
sozinho,
neste imenso vazio de um dia que se apressa mais que o vento,
sem história,
nem livro…
Só o desenho me lava,
e
leva
leve,
na ondulação das dunas,
desta linha deserta,
sem caminhos…

4 comentários:

red hair disse...

Ai, homem, primeiro eu leio isto que tu escreves desta forma tão peculiar que só tu sabes...depois releio e fico assim com um aperto que nem sei explicar.
Se a loira aqui estivesse ela saberia por certo dizer-te algo. Seria um disparate mas também que importância teria?

Deixo-te um beijo, vale?

dffdfd disse...

..."Inquieto-me e mergulho,
sozinho,
neste imenso vazio de um dia que se apressa mais que o vento,
sem história,
nem livro…
Só o desenho me lava,
e
leva
leve,
na ondulação das dunas,
desta linha deserta,
sem caminhos…"
Está linda esta tela escrita!

m@nuel disse...

É difícil ignorar o traço hábil no teu desenho das palavras.
Poesia plástica, pictórica, quase cinematográfica.
Porém, carregada de densidade que nos faz parar para sentir.
Dá vontade de ler várias vezes a mesma frase
Deixo-te aqui o meu apreço.

Menina Marota disse...

Que os ventos que se desejam,
sejam leves
quentes
sedentos de poesia
que inebria
aquieta
ilumina...

Uma noite serena :)