Senti aromas de liberdade, ao não me ser devolvido o olhar. Foi, no seu próprio caminho, com a sua cor , sem reflexos, sem espelhos nem labirintos.
Falta agora largar este peso negro, carregado de solidão, para que A sinta inteira, dentro de mim…
tenho uns olhos em forma de lápis, mas nem sempre de cor... Sei que sou esquisito mas a vida moldou-me assim... ganancioso de SER por inteiro e não me caber por inteiro em mim.
31 de julho de 2004
30 de julho de 2004
árvores-brisa
Papá, Papá, as portas de nossa casa estão vivas! Quando as abro, falam comigo baixinho, aos assobios.
Não, filho, as portas não falam contigo. Falta-lhes, óleo, por isso guincham quando se abrem…
Que pena, Papá!
Pena?
Sim, Papá. Não tenho Vida que chegue para pôr óleo em todas as árvores da minha serra. Os cedros, os pinheiros, e os eucaliptos, falam-me da mesma maneira, aos assobios, sempre que as visito…
Não filho, esse som que ouves, esse assobio, é a brisa, o vento que faz rodar as tuas árvores. São os troncos a girar, a ranger…
UF! Já podias ter dito que somos brisa, quando abrimos as portas de nossa casa!
Tenho brisa que chegue para abrir todas as portas de nossa casa…
Não, filho, as portas não falam contigo. Falta-lhes, óleo, por isso guincham quando se abrem…
Que pena, Papá!
Pena?
Sim, Papá. Não tenho Vida que chegue para pôr óleo em todas as árvores da minha serra. Os cedros, os pinheiros, e os eucaliptos, falam-me da mesma maneira, aos assobios, sempre que as visito…
Não filho, esse som que ouves, esse assobio, é a brisa, o vento que faz rodar as tuas árvores. São os troncos a girar, a ranger…
UF! Já podias ter dito que somos brisa, quando abrimos as portas de nossa casa!
Tenho brisa que chegue para abrir todas as portas de nossa casa…
29 de julho de 2004
tudo depende da intensidade da procura…
Não posso encontrar mais do que procuro. Todo o resto esconde-se no silêncio do existir...
segredos
Andei à procura de significados para a palavra Civilizado. É uma palavra muito envergonhada. Andou a correr e a esconder-se do olhar. Insisti, agarrei-a e fitei-a, olhos nos olhos. Segredou-me de fugida:
São uns loucos!
Há um isolamento latente entre todos vós que vos impede de serem autênticos! Colectivos! Enquanto assim for, andarão sempre muito baralhados com o meu significado…
São uns loucos!
Há um isolamento latente entre todos vós que vos impede de serem autênticos! Colectivos! Enquanto assim for, andarão sempre muito baralhados com o meu significado…
28 de julho de 2004
(des)equilibrios
Tentei-me equilibrar na linha fina e difusa que traça o amanhã.
Caí sempre no ontem.
Caí sempre no ontem.
pergunta sem interrogação
A harmonia só existe em estado puro.
Livre!
Presa num pensamento, desfaz-se, estilhaça-se em fragmentos.
Lágrimas?
Livre!
Presa num pensamento, desfaz-se, estilhaça-se em fragmentos.
Lágrimas?
caminhos cruzados
Cruzei-me com menino que carregava sozinho toda a responsabilidade de viver o seu sonho. Vi-o a seguir gaivota com o olhar, que se fundia em cor, entre o sol cansado e o horizonte.
27 de julho de 2004
história por contar.
Há dias de luz-serena que somos tentados a colher da paisagem que nos envolve o ver, personagens, que nos emocionaram e levá-las para casa, e inventar-lhes uma história. Não há ponto de encontro, nem destino, nem acaso. Acaso só o facto de termos estado no mesmo cenário, com a mesma luz, a existir o momento…
Sentado ao fim de tarde de Julho, também ele no fim, olho o mar, é costume. Há um ambiente de sons, de cores e de profundidade que me levam a olhar o nada, à procura de palavras, em mim. Saboreio pensamentos, muitos deles, nem me contam, andam por aí a fingir-se gaivotas e apenas se dignam a revelar-me sussurros espaçados em palavras que esqueço. Estava nesta calma ausência, todo sentidos virado para dentro, quando oiço alegria de risos soltos. Sem olhar, por me encontra ainda, por dentro em concha que se perde no horizonte, tento precisar se a alegria que me invade é de criança. É a curiosidade que me faz aproximar do mundo que se movimenta à minha frente. Dançam em jogo de bola dois jovens, ele e ela. Paro-me nas linhas que se saltam em bailado, da rapariga que se estica para tocar a bola que lhe esvoaça nas mãos. Movimentos lindos, desenho impossível de fixar, nem retratar, porque transmite alegria, que se reflecte em constante sorriso, de boca jovem que vive o instante, no lança que lança, de bola em dança. Não consigo retirar o ver do corpo, do olhar e dos risos que rasgam o ar que ofuscam o batuque-pandeireta de mar que se desenrola, no seu vai e vem, em recados de onda que só estando a sós se entendem, e não o estou, (tenho outras coisas no olhar). Cabelos escuros, pele de verão, pescoço esguio. Salta, dança, a bola é acessório de paisagem (desculpem a repetição, mas o movimento que a acompanha, ritmado de riso com orquestra de mar, só pode ser bailado, sensual, porque feminino, mais bonito que belo, porque harmonia. Tudo se conjuga em imagem que prende os sentidos, todos). Não consigo realçar o que me comove o sentir, se o cabelo que esvoaça preso-livre, atado em linha esbelta, em cavalo-negro de desenho cubista, se o riso, branco-feliz, se os seios cheios, também eles dançarinos, também eles voadores, junto ao corpo que salta, levantando areia ao encontro de bola, ao vento. Não gosto da palavra seios, não porque feia, mas porque lhe falta poesia, porque linguagem demasiado anatómica e leva o pensamento a consultório médico. O que o olhar me devolve para descrever tão graciosa escultura assemelha-se a gotas-vestidas-de-pele-seda-de-julho-quente, que floriam esculpidas no corpo, porque gotas têm a forma perfeita que a natureza lhe deu, porque seda cheira a flor (não sei de onde veio esta associação de sentires, mas se está escrita, é porque foi sentida), macia, na sua firmeza jovem (desenho-os, de longe, sem pensamentos outros que aqueles que a imagem me dá, porque estou maravilhado com o todo que ri sem parar, em alegria estonteante de criança grande, linda, trigueira de se ver). Pinto gazela, chamo-lhe Gabriela (talvez o nome tenha caído de leituras outras, não sei, digamos que sim, porque igualmente bela, igualmente sensual, na ingenuidade de se expor linda, a rir, furacão de riso que me embriaga o sentir). O nome não interessa, mas fica, talvez seja preciso mais tarde para dar nome a quadro, se conseguir artes e jeitos para pôr alegria em cor e desenho. Ele, bruto, desenquadrado no ver. Exibe-se. Macho de tanga. Não a vê, só a bola. Não tem graça. Lembra-me soldado, desactivado, porque acumula tecido adiposo, de quem se vai desleixando de corpo e alma, se o não é, imita o estilo. Vejo-o fardado, a insultar os passageiros do comboio de fim-de-semana, de lata de cerveja na mão, a contar as suas proezas físicas e sexuais sem respeito por quem o espera, ansiosa, na estação de saída, em saudades de afectos e de corpo. Não lhe dei nome, não vou precisar dele mais tarde, ficará fora do quadro. Não cabe lá dentro (talvez esteja a ser injusto. Ciúme? Não de todo. Apenas estraga a imagem, a poesia do momento e não entremos em fantasias, que sou adepto da serenidade e da lealdade, e tenho afectos outros.) Pergunto-me, o que é que a minha história tem a ver com o facto de estar na praia, contagiado pela beleza de mulher, que teimou em dançar entre mim e o horizonte? Não respondo, porque me sei a mania de me meter onde não sou chamado e esta história não é a minha, eu só a desenho. Não me canso de olhar, esqueço-me das horas, o tempo (des)existiu, só as gaivotas avisam o por do sol. Não tenho outro remédio, senão apanhar as duas vidas, como quem colhe duas flores, e transforma-las em personagens e levá-las comigo, para um dia, agarrar nelas e inventar-lhes uma história.
Sentado ao fim de tarde de Julho, também ele no fim, olho o mar, é costume. Há um ambiente de sons, de cores e de profundidade que me levam a olhar o nada, à procura de palavras, em mim. Saboreio pensamentos, muitos deles, nem me contam, andam por aí a fingir-se gaivotas e apenas se dignam a revelar-me sussurros espaçados em palavras que esqueço. Estava nesta calma ausência, todo sentidos virado para dentro, quando oiço alegria de risos soltos. Sem olhar, por me encontra ainda, por dentro em concha que se perde no horizonte, tento precisar se a alegria que me invade é de criança. É a curiosidade que me faz aproximar do mundo que se movimenta à minha frente. Dançam em jogo de bola dois jovens, ele e ela. Paro-me nas linhas que se saltam em bailado, da rapariga que se estica para tocar a bola que lhe esvoaça nas mãos. Movimentos lindos, desenho impossível de fixar, nem retratar, porque transmite alegria, que se reflecte em constante sorriso, de boca jovem que vive o instante, no lança que lança, de bola em dança. Não consigo retirar o ver do corpo, do olhar e dos risos que rasgam o ar que ofuscam o batuque-pandeireta de mar que se desenrola, no seu vai e vem, em recados de onda que só estando a sós se entendem, e não o estou, (tenho outras coisas no olhar). Cabelos escuros, pele de verão, pescoço esguio. Salta, dança, a bola é acessório de paisagem (desculpem a repetição, mas o movimento que a acompanha, ritmado de riso com orquestra de mar, só pode ser bailado, sensual, porque feminino, mais bonito que belo, porque harmonia. Tudo se conjuga em imagem que prende os sentidos, todos). Não consigo realçar o que me comove o sentir, se o cabelo que esvoaça preso-livre, atado em linha esbelta, em cavalo-negro de desenho cubista, se o riso, branco-feliz, se os seios cheios, também eles dançarinos, também eles voadores, junto ao corpo que salta, levantando areia ao encontro de bola, ao vento. Não gosto da palavra seios, não porque feia, mas porque lhe falta poesia, porque linguagem demasiado anatómica e leva o pensamento a consultório médico. O que o olhar me devolve para descrever tão graciosa escultura assemelha-se a gotas-vestidas-de-pele-seda-de-julho-quente, que floriam esculpidas no corpo, porque gotas têm a forma perfeita que a natureza lhe deu, porque seda cheira a flor (não sei de onde veio esta associação de sentires, mas se está escrita, é porque foi sentida), macia, na sua firmeza jovem (desenho-os, de longe, sem pensamentos outros que aqueles que a imagem me dá, porque estou maravilhado com o todo que ri sem parar, em alegria estonteante de criança grande, linda, trigueira de se ver). Pinto gazela, chamo-lhe Gabriela (talvez o nome tenha caído de leituras outras, não sei, digamos que sim, porque igualmente bela, igualmente sensual, na ingenuidade de se expor linda, a rir, furacão de riso que me embriaga o sentir). O nome não interessa, mas fica, talvez seja preciso mais tarde para dar nome a quadro, se conseguir artes e jeitos para pôr alegria em cor e desenho. Ele, bruto, desenquadrado no ver. Exibe-se. Macho de tanga. Não a vê, só a bola. Não tem graça. Lembra-me soldado, desactivado, porque acumula tecido adiposo, de quem se vai desleixando de corpo e alma, se o não é, imita o estilo. Vejo-o fardado, a insultar os passageiros do comboio de fim-de-semana, de lata de cerveja na mão, a contar as suas proezas físicas e sexuais sem respeito por quem o espera, ansiosa, na estação de saída, em saudades de afectos e de corpo. Não lhe dei nome, não vou precisar dele mais tarde, ficará fora do quadro. Não cabe lá dentro (talvez esteja a ser injusto. Ciúme? Não de todo. Apenas estraga a imagem, a poesia do momento e não entremos em fantasias, que sou adepto da serenidade e da lealdade, e tenho afectos outros.) Pergunto-me, o que é que a minha história tem a ver com o facto de estar na praia, contagiado pela beleza de mulher, que teimou em dançar entre mim e o horizonte? Não respondo, porque me sei a mania de me meter onde não sou chamado e esta história não é a minha, eu só a desenho. Não me canso de olhar, esqueço-me das horas, o tempo (des)existiu, só as gaivotas avisam o por do sol. Não tenho outro remédio, senão apanhar as duas vidas, como quem colhe duas flores, e transforma-las em personagens e levá-las comigo, para um dia, agarrar nelas e inventar-lhes uma história.
26 de julho de 2004
imagem desfocada
O nevoeiro, caiu, pesado, junto ao mar. Fundiu-se. Pintou tudo da sua cor.
O mar, que me fala, que me murmura em segredos, contados por onda que me abraça, em manhãs de cumplicidades, disse-me quase sem som, Sou eu todo!
Elevo-me,
denso,
desfocado.
Hoje sou nuvem-de-olhar...
Abafo os meus lamentos em lágrimas finas,
aguçadas que se evaporam,
fervidas de dor.
Sou névoa salgada.
Sou eu todo que me escondo…
O mar, que me fala, que me murmura em segredos, contados por onda que me abraça, em manhãs de cumplicidades, disse-me quase sem som, Sou eu todo!
Elevo-me,
denso,
desfocado.
Hoje sou nuvem-de-olhar...
Abafo os meus lamentos em lágrimas finas,
aguçadas que se evaporam,
fervidas de dor.
Sou névoa salgada.
Sou eu todo que me escondo…
25 de julho de 2004
mil e uma cor
Passeio na areia que se estende em horizonte pintada de castanhos-deserto. Fixei-me em ponto branco, disforme, porque longe. Estava meio, entre a linha e o olhar. Só o sei branco-neve. Dirijo-me para o ponto, interrogativo, expectante. Só vejo branco, nem oiço mar que me ladeia, fiel, companheiro. É rocha, alva, pura. Gigante de branco. Toda dignidade, no meio daquele areal que se veste de “deserto”. É fim de dia e as cores são poesia.
Que faz aquele rochedo branco, perdido na areia, imaculadamente branco?
Homem? Naaaão! Nenhum homem carrega rocha para meio de coisa alguma, quanto mais num areal quase horizonte. Nem mesmo artista!
O Mar? Impossível, mesmo forte, mesmo tormenta, não levaria para local, longe, semelhante rochedo, quanto muito ficaria, beijado de água, escorregado entre o Mar e a Terra, não ali, longe…
Sentei-me a olhar o branco que naquela tarde de fim de dia, insistia em ser só branco, mesmo no sol por, onde todos tomamos outras cores e outros sentires…
Cheio de acreditar, perguntei ingénuo.
Que fazes aí? Quem és?
Sou onda-espuma. Petrifiquei-me de amor por um cristal de quartzo de mil cores. De mil cores! Poderás tu imaginar a beleza de um quartzo de mil cores? Não lhe resisti! Transformei-me!
Levantei-me. Tive medo de olhar tão perfeito ser, não fosse perder-me também. Se o arco íris em que me vou pintando no sentir tem sete simples cores, não ouso imaginar a emoção de se olhar mil cores todas ao mesmo tempo…
Voltei devagar, a olhar os castanho-rosa de fim de dia, a ouvir o mar, a cantar-me, para me sossegar…
Que faz aquele rochedo branco, perdido na areia, imaculadamente branco?
Homem? Naaaão! Nenhum homem carrega rocha para meio de coisa alguma, quanto mais num areal quase horizonte. Nem mesmo artista!
O Mar? Impossível, mesmo forte, mesmo tormenta, não levaria para local, longe, semelhante rochedo, quanto muito ficaria, beijado de água, escorregado entre o Mar e a Terra, não ali, longe…
Sentei-me a olhar o branco que naquela tarde de fim de dia, insistia em ser só branco, mesmo no sol por, onde todos tomamos outras cores e outros sentires…
Cheio de acreditar, perguntei ingénuo.
Que fazes aí? Quem és?
Sou onda-espuma. Petrifiquei-me de amor por um cristal de quartzo de mil cores. De mil cores! Poderás tu imaginar a beleza de um quartzo de mil cores? Não lhe resisti! Transformei-me!
Levantei-me. Tive medo de olhar tão perfeito ser, não fosse perder-me também. Se o arco íris em que me vou pintando no sentir tem sete simples cores, não ouso imaginar a emoção de se olhar mil cores todas ao mesmo tempo…
Voltei devagar, a olhar os castanho-rosa de fim de dia, a ouvir o mar, a cantar-me, para me sossegar…
24 de julho de 2004
sombras
As sombras não são cinzentas nem negras.
São transparentes.
Vê-se sempre o que está por baixo.
Só de noite escondem tudo!
São o cobertor da cama do Mundo!
São transparentes.
Vê-se sempre o que está por baixo.
Só de noite escondem tudo!
São o cobertor da cama do Mundo!
acordar tarde em bocejo de mar
O mar acordou sem cor. A sua. Cinzento. Segredou-me que vinha mais tarde. Esperei. Fiquei a ouvi-lo
personagem
Insisto na personagem, que moldo, traço por traço, no existir, com tudo o que comporta a imagem. Falta-lhe vida. Cor não basta para ser mais que personagem, quanto muito reflexo, face, pedaço. Ando cansado para me fingir, para manter vivo o desenho em que me pinto, por isso deixo-me invadir pelos reflexos ( os reflexos e os labirintos perseguem-me no cansaço do ver). Só no silêncio me vejo autêntico. É num mundo de ausências que me sorrio sem sombras. É na ausência que me cresço em Mim. As palavras que me fingem a personagem doem-me. Quando mergulho ou voo, ensino-me a andar. Vou aprender a desenhar a palavra ouvir, para saber espreitar a ausência sem ela me pressentir...
23 de julho de 2004
guitarra, que chora, baixinho...
Eras uma linha, em sons de corda, que cantava guitarra, eras menino-flor, de olhos-música.
Eras fado cantado com cordas dedilhadas de amor, eras dança, eras cousa uma em forma de abraço.
Voo sentado.
Embalado.
Sonho-guitarra-ternura.
Quadro.
Eras linha una, que cantava.
Linha-corda, acorde de alma.
Eras tu.
Carlos, Guitarra.
Cigarra de dedos loucos de medos, outros.
Olho-te desenho-mãe que pega-abraça criança, em curvas-guitarra.
Hoje choro baixinho, sem lágrima. É choro de guitarra...
Eras fado cantado com cordas dedilhadas de amor, eras dança, eras cousa uma em forma de abraço.
Voo sentado.
Embalado.
Sonho-guitarra-ternura.
Quadro.
Eras linha una, que cantava.
Linha-corda, acorde de alma.
Eras tu.
Carlos, Guitarra.
Cigarra de dedos loucos de medos, outros.
Olho-te desenho-mãe que pega-abraça criança, em curvas-guitarra.
Hoje choro baixinho, sem lágrima. É choro de guitarra...
desencontros em teatros de vida(s)
Em situação normal nunca teria ido por aí.
O caminho não era o dele.
Imaginara-o vezes várias, sentira-o com todo o seu olhar, mas sabia que só o viveria numa vida paralela, entre o sonho e o seu caminho. Espaço, sem tempo que existe no sentir, que chega a ter vida própria, mas que apenas cresce e floresce dentro de cada qual. Mas este era real, tocava-se para lá do olhar, tinha corpo e alma própria, não saía de dentro da lamparina de emoções que lhe habitava o ser. Era soma de si, por isso foi de olhos fechados, cheio de sentir. Foi, inconsciente, encantado, cheio de novas cores, de desenho vivo, que se transformava em palavras e em vida.
Ainda não sabe o que o levou a ir, por caminhos que não eram os dele, pois sempre controlou emoções, sempre as viveu sozinho.
Um dia, como que acordado de um sonho, encontrou-se no meio do mar, sem pontos de referência, apenas ouvia sussurros de ecos trazidos pelo vento, que lhe indicavam, sinais e sentidos. Criou forças e seguiu o seu caminho, imaginando rotas e atalhos (estranhos atalhos os que se encontram no mar que cada uma das nossas vidas contém). Quando acordou, voltou a ver as cores que lhe pintavam o existir.
Estava tudo lá, no seu cenário.
No cenário que tinham criado para se ver na vida!
Só não teve coragem de olhar par atrás.
Sabia que os seus passos, fora do caminho, tinham pisado outros olhares, que sem querer se misturaram no sonho sem perceber que as cores que o iluminavam, reflectiam cenário outro.
O caminho não era o dele.
Imaginara-o vezes várias, sentira-o com todo o seu olhar, mas sabia que só o viveria numa vida paralela, entre o sonho e o seu caminho. Espaço, sem tempo que existe no sentir, que chega a ter vida própria, mas que apenas cresce e floresce dentro de cada qual. Mas este era real, tocava-se para lá do olhar, tinha corpo e alma própria, não saía de dentro da lamparina de emoções que lhe habitava o ser. Era soma de si, por isso foi de olhos fechados, cheio de sentir. Foi, inconsciente, encantado, cheio de novas cores, de desenho vivo, que se transformava em palavras e em vida.
Ainda não sabe o que o levou a ir, por caminhos que não eram os dele, pois sempre controlou emoções, sempre as viveu sozinho.
Um dia, como que acordado de um sonho, encontrou-se no meio do mar, sem pontos de referência, apenas ouvia sussurros de ecos trazidos pelo vento, que lhe indicavam, sinais e sentidos. Criou forças e seguiu o seu caminho, imaginando rotas e atalhos (estranhos atalhos os que se encontram no mar que cada uma das nossas vidas contém). Quando acordou, voltou a ver as cores que lhe pintavam o existir.
Estava tudo lá, no seu cenário.
No cenário que tinham criado para se ver na vida!
Só não teve coragem de olhar par atrás.
Sabia que os seus passos, fora do caminho, tinham pisado outros olhares, que sem querer se misturaram no sonho sem perceber que as cores que o iluminavam, reflectiam cenário outro.
22 de julho de 2004
acaso(s)
Fiz uma DESCOBERTA!
Não necessariamente cientifica, porque introspectiva, sem ensaios, nem teorias e de cientista nada tenho, a não ser leituras avulsas e gulosas.
Dei-lhe nome, a imitar padrão de pedra tosca, de eras e homens, outros.
LEI DO ACASO. Tem como principio que cada ser, vivo ou não, (ou de estado outro, desconhecido), interage com a menor energia disponível. O acaso, está em que cada um tem a sua, e não necessariamente a mesma, pelo que a interacção, o encontro, o entendimento, é fruto do acaso…
Não necessariamente cientifica, porque introspectiva, sem ensaios, nem teorias e de cientista nada tenho, a não ser leituras avulsas e gulosas.
Dei-lhe nome, a imitar padrão de pedra tosca, de eras e homens, outros.
LEI DO ACASO. Tem como principio que cada ser, vivo ou não, (ou de estado outro, desconhecido), interage com a menor energia disponível. O acaso, está em que cada um tem a sua, e não necessariamente a mesma, pelo que a interacção, o encontro, o entendimento, é fruto do acaso…
fumos com história para contar
Sigo, em presença, nuvem de fumo à procura de enredo para um conto, de encontros, sem personagens, porque me fogem sempre que lhes toco, mesmo que imaginadas e criadas para o momento da escrita. Quero pôr palavras no ar em formas várias, de fumo-prata, à procura de um sentir. Sinto. Intimidade, entre os dedos que me escrevem e o aroma, café-chocolate, que envolve o desenho e que me espreitou a sorrir pedaços de vida que me roubou. Converso-me, antes da escrita como quem procura o verde nas árvores de Outono, em Inverno tardio. Só me sei. Desinteresso-me das palavras. Conheço-as. Queria outras, que me acordassem, que me brilhassem e navegassem-brisa, em poema.
Sinto-me chuva-semente-de-rio, antes de escorregar ravina, à procura de caminhos que a levem ao sal.
Queria sentir palavras que voassem em melodias murmurosas, assobiadas de SABER…
Sinto-me chuva-semente-de-rio, antes de escorregar ravina, à procura de caminhos que a levem ao sal.
Queria sentir palavras que voassem em melodias murmurosas, assobiadas de SABER…
21 de julho de 2004
palavras que se escondem
Há equívocos que se escondem no silêncio das palavras, e o desassossego não é o melhor olhar para os ouvir. Ando ausente em luz-noite, como se a vida se tivesse cansado de me reflectir as cores e eu não tivesse forças nem imaginação para a pintar, nem que fosse só a fingir.
20 de julho de 2004
uma questão de cuidados e de afectos
Temos uma tendência (quem escreve, refere-se a todos aqueles que lhe habitam o eu e que se convergem no seu sentir, semelhanças, de olhos outros com o que vai ser escrito e lido serão coincidências do olhar que se somam no mesmo ver) para sentirmos que o Amor é uma flor que nos cresce dentro do peito e que lhe damos cor com a luz do nosso olhar.
Nada mais errado, o Amor está fora, é flor, sim, mas que precisa mais do que o nosso olhar, precisa de cuidados, muitos, de carinho, de alimento, para poder colorir(desculpem, florir) com o nosso dar
Nada mais errado, o Amor está fora, é flor, sim, mas que precisa mais do que o nosso olhar, precisa de cuidados, muitos, de carinho, de alimento, para poder colorir(desculpem, florir) com o nosso dar
19 de julho de 2004
linhas, pontos e fugas
Sento-me em rochedo que penetra, em acto fecundo de amor, no Mar. Paro-me no olhar. Suspendo-me do existir, sentado naquela quilha navegante de pedra salgada em eternidade de comunhão com as águas de vida. Sinto-me em estado-de-alma quando me fundo em pensamentos com o horizonte, acarinhado por ventos-brisa-onda . É a minha porta para o lado de lá do olhar, é o meu ponto de fuga. (quem escreve, diz-se desenhador, quem lê acha estranho um desenhador ter um ponto de fuga que se desenha linha, quem pinta e sente, sabe que o horizonte é ponto de fuga para quem desenha a imaginação do sentir de um sonho…)
18 de julho de 2004
leituras
Afago livro. Páro. Hesito-olhares. Medos da vida que fervilha, que pulsa-sol em ver e que se fixam em poemas e histórias, de outros. Abro. Lento. Deslizo-me em folhas-palavras-poema. Percorro rio de Medos. Medo que as palavras saltem da história-poema e eu me perca nas palavras e não me consiga livrar delas, da história. Medo da fusão de sentires e desencontrar-me com a minha própria história, do meu poema. Medo de perder o meu sentir e passar a contá-lo com palavras que não são minhas. As palavras que se fugiram de olhos outros, puxam-me. Paro. Lento. Leio e vagueio pelo maravilhar do sentir e cresço-me, agora sem medos, com palavras outras. Novas. Minhas.
17 de julho de 2004
intensidades
O corpo fugiu-me, deixou-me suspenso do tempo em voo-de-alma. Voar de sentidos, presente, intensamente presente, como se o olhar visse sozinho, tudo por inteiro, sem horizontes. Intenso, este olhar que se atrevia a ver mesmo sem luz. Olhar penumbra de noites de maresia de luz-lua. Olhar-voador. Olhar-gaivota. Dolorosamente livre! Sublime...
16 de julho de 2004
sou
sento-me noite, na areia casada em espuma. oiço. é o universo que me fala, que me canta em encantos de poesia. sem palavras. sem sal, nem sabores. inteiro. simples. deixo-me envolver em ondas que me chamam e me ardem os sentires, em calores de noite, sem vento que me brisa o olhar. oiço e entro em universo que paira em alma. saio de mim. sou eu, fora, dentro de coisa maior. estrela? luz? não importa. estou. sou.
15 de julho de 2004
afectos…
Quando queremos dar um afecto, trocar um carinho, transmitir confiança, tocamos.
Damos,
um abraço,
uma mão,
ou as duas, que se tocam, quatro, (n)UM sentir.
Apertamos.
Sentimos.
Unimos.
Damos, as mãos…
Hoje, passou por mim, alguém, vestida de recordação que me deu um olhar.
Tocou-me, com o tamanho todo do Universo…
Damos,
um abraço,
uma mão,
ou as duas, que se tocam, quatro, (n)UM sentir.
Apertamos.
Sentimos.
Unimos.
Damos, as mãos…
Hoje, passou por mim, alguém, vestida de recordação que me deu um olhar.
Tocou-me, com o tamanho todo do Universo…
lápis vivo, atrevido que se transformou em desenho...
Desenho o teu cabelo, longo, onda-mar. O teu cabelo. Teu, que só existes no olhar e na cor que se vive no lápis que se chora sépia-sol.
Distancio-me da linha que ondula em praia mar no papel-marfim. Não tem corpo, nem alma. É corpo nuvem que me ardeu-fogo no olhar e que me fugiu, rebelde em linha-cabelo no desenho, que nasceu saudade…
Distancio-me da linha que ondula em praia mar no papel-marfim. Não tem corpo, nem alma. É corpo nuvem que me ardeu-fogo no olhar e que me fugiu, rebelde em linha-cabelo no desenho, que nasceu saudade…
14 de julho de 2004
gavetas
Não era costume arrumar, fechar gavetas, como quem resolve um assunto, uma tarefa. Não era de todo arrumado, nunca fora, sempre agira com o impulso do sentir. Deixava-se ir na vida, como a água de um rio. Sabia-Se e isso bastava. Mas hoje, hoje, o dia, pintara-se de estranhas cores no olhar. Hoje, era um dia anormal no seu viver, uma espécie de eclipse solar, que sendo natural, rareia e torna-se único, especial quando é.
Hoje, fechara gavetas (não necessariamente arrumadas, no que se vê dentro. Fechadas, apenas, sem chaves, não fosse o destino saltar com emoções outras e baralhasse arrumação do sentir…).Fechara-as, uma a uma, não necessariamente com ordem, só o resultado do sentir, fazia prever harmonia (adivinha-se, só por este facto que pelo menos ordem emocionalmente estética havia, se é que o sentir possa ter estética ou mesmo ordem. Quem escreve acha-o).
Sentia-se leve, quase ausente, quase sereno, sentia chão, via-o, sem olhar, sem se fixar na cor, no reflexo, e isso era poema, era horizonte, quase Mar…
Faltava, apenas, só, a sua gaveta. Era a sua gaveta que o puxava e dizia-o, implorando, interrogativa, e Eu?
Sim, sabia-o, faltava a sua gaveta, não tinha espaço para ela, não tinha hierarquia, nem ordem, era a sua gaveta, o seu caos e assim deveria permanecer. Sua, desarrumada, esquecida…
Hoje, fechara gavetas (não necessariamente arrumadas, no que se vê dentro. Fechadas, apenas, sem chaves, não fosse o destino saltar com emoções outras e baralhasse arrumação do sentir…).Fechara-as, uma a uma, não necessariamente com ordem, só o resultado do sentir, fazia prever harmonia (adivinha-se, só por este facto que pelo menos ordem emocionalmente estética havia, se é que o sentir possa ter estética ou mesmo ordem. Quem escreve acha-o).
Sentia-se leve, quase ausente, quase sereno, sentia chão, via-o, sem olhar, sem se fixar na cor, no reflexo, e isso era poema, era horizonte, quase Mar…
Faltava, apenas, só, a sua gaveta. Era a sua gaveta que o puxava e dizia-o, implorando, interrogativa, e Eu?
Sim, sabia-o, faltava a sua gaveta, não tinha espaço para ela, não tinha hierarquia, nem ordem, era a sua gaveta, o seu caos e assim deveria permanecer. Sua, desarrumada, esquecida…
13 de julho de 2004
pintura-retrato em DNA
Retrato figura esbelta linear, menina. Desenho cabelos soltos, caídos em castanhos muitos. Vejo-lhe olhos e pinto-os, cor de mar. Está envolta, abraçada, em mãos, suas, curiosas. Pensa saudades. Pinto-a, disfarço-a em árvore, sem sombras, é menina. Componho imagem com poliedros, grades de hélices, simples, duplas que se combinam em letras, quatro, A-T-G-C, misturadas em fosfatos, em açucares. Letras, palavras que compõem o desenho que lhe traço, é nano-poeta, a menina. É célula-tronco, é vida. Cores, muitas, em tons de creme, que abraça, que sorri. É descoberta!
12 de julho de 2004
mão, deformada em apelo
Não sei se piso, se ando…
Sinto…
Não são palavras, nem olhares, é o nada, o vazio que enlouquece e me preenche o caminho.
Pesa-me o que piso…
Sinto…
Fecho os olhos, o olhar e visto-me. Deixei de andar nu.
Vou…
Sinto…
Vazio,de mar em sons de Outonos,onda-espuma que se eleva no ar…
Mar-Vulcão.
Sinto...
Pinto-me de cores visíveis em formas de Mim,
sem palavras…
Não sei o que digo, apenas quero estar aqui, vestido de sentidos…
Sinto…
Estendo a mão.
Aberta.
Esticada.
Deformada em apelo.
Foge-me.
Sinto…
Já não ando. Sento-me, penduro-me na estrela que me olha-luz, em baloiço…
Criança que se finge, que se brinca…
Só!
Sinto…
Repito sons, palavras, que moldam o vazio de mim…
Barro húmido, informe, (in)criado no ser-Me!
Sinto-me...
Só!
Onda que emerge, infinda, sem sons…
Já não grito,
piso,
piso-me caminhos...
Sinto…
Não são palavras, nem olhares, é o nada, o vazio que enlouquece e me preenche o caminho.
Pesa-me o que piso…
Sinto…
Fecho os olhos, o olhar e visto-me. Deixei de andar nu.
Vou…
Sinto…
Vazio,de mar em sons de Outonos,onda-espuma que se eleva no ar…
Mar-Vulcão.
Sinto...
Pinto-me de cores visíveis em formas de Mim,
sem palavras…
Não sei o que digo, apenas quero estar aqui, vestido de sentidos…
Sinto…
Estendo a mão.
Aberta.
Esticada.
Deformada em apelo.
Foge-me.
Sinto…
Já não ando. Sento-me, penduro-me na estrela que me olha-luz, em baloiço…
Criança que se finge, que se brinca…
Só!
Sinto…
Repito sons, palavras, que moldam o vazio de mim…
Barro húmido, informe, (in)criado no ser-Me!
Sinto-me...
Só!
Onda que emerge, infinda, sem sons…
Já não grito,
piso,
piso-me caminhos...
11 de julho de 2004
história trauteada em assobios de trompete e piano ( sem dó menor)
Sensação estranha, bizarra por inteiro, esta de querer contar história e perder-me na imaginação das palavras, que se amotinam e recusam personagens.
Metamorfose híbrida de um contar de memórias, outras, difusas, doentes, que se transformam no próprio corpo do ilusionsta-pintor, preso em rios seus que apodrecem e definham com o tempo, em recusa de poemas-fantasia , rimados em cores esbatidas de querer.
É vida, inventada que escoa, mágica, que me corre nas veias do olhar, em sons de trompete que me "pianeia" ( para além do som das cordas, não esquecer os efeitos do preto e do branco a dançar sozinhos, quase sem dedos, porque estes transformaram-se em bailarinos) os sentidos em improvisos que me fogem das palavras que (des)escrevo, que (des)conto que (des)historio.
Simplesmente, não há história, contada em letras sem cor, apenas sons conexos, sem imaginação , nem sexos, a fingirem-se de Vida...
Metamorfose híbrida de um contar de memórias, outras, difusas, doentes, que se transformam no próprio corpo do ilusionsta-pintor, preso em rios seus que apodrecem e definham com o tempo, em recusa de poemas-fantasia , rimados em cores esbatidas de querer.
É vida, inventada que escoa, mágica, que me corre nas veias do olhar, em sons de trompete que me "pianeia" ( para além do som das cordas, não esquecer os efeitos do preto e do branco a dançar sozinhos, quase sem dedos, porque estes transformaram-se em bailarinos) os sentidos em improvisos que me fogem das palavras que (des)escrevo, que (des)conto que (des)historio.
Simplesmente, não há história, contada em letras sem cor, apenas sons conexos, sem imaginação , nem sexos, a fingirem-se de Vida...
10 de julho de 2004
cumplicidades em aromas do sentir
Converso-me contigo, que me olhas, que me esperas, em sossego, sem exigências, sem angústias. Olhas-me calmo, pousado na mesa, quase esquecido, arrefecido de fumos pardos em movimentos que se pensam, que se escrevem, se desenham. Companheiro, quase amigo, de confissões, de histórias e de lágrimas. Pego-te, após ano de indiferença, e acendo-te, em ritual de paixão, de aroma, de cumplicidade. Esfumas-te, e sinto-me em companhia de mim, mão-cachimbo que se inventa em história-poemas. Esqueço-me, ausento-me em músicas em tons de jaz, e sinto-me nuvem, em brasa lenta que me pensa…
8 de julho de 2004
ás voltas com um dia não, que voou até à minha mão
Contaram-me a história de um dia não, ou melhor fizeram-me pensar, como se preenche um dia não.
Fiquei parado, a imaginar, a imaginar-me, a percorrer os espaços de um caminho que se dirige para um dia assim, feio, careta-amargo.
Assim como?
Um dia cheio de vazios de sentir!
Um dia que anda ao contrário!
Onde as estrelas são negro e o negro luz!
Um dia que não cabe no olhar, um dia que não se sorri, que se despinta, que se desnuda, frio de Ver!
Um dia, não, é um livro que deixa escorregar todas as suas letras por entre as páginas que se viram, ao vento e se amontoam, em pirâmide de sal, salgado, mas negro…
Que fazer a todas aquelas letras que já foram história, já foram sentir, já foram palavras de poema, já foram sentires de amor e agora são letras que só por acasos caóticos formam a palavra não, ou palavra qualquer?
Fecho os olhos e pinto, um não, sem cor, traçado-escrito, no vazio, só para sentir que ele está ali, preso na palavra, preso na escrita e ...
sorrio,e gargalho-me e corro contente, alegre-palhaço, alegre-menino, a avisar toda a gente, a anunciar o feito, o acontecer...
Escrevi-o!
Prendi-o!
Fechei-o, guardado no papel!
Queimei-o!
Volatilizei-o!
Hoje já não há mais dia não!
Agora conta, menina, conta a tua história, para amanhã vermos todas as cores da tua estrela…
Fiquei parado, a imaginar, a imaginar-me, a percorrer os espaços de um caminho que se dirige para um dia assim, feio, careta-amargo.
Assim como?
Um dia cheio de vazios de sentir!
Um dia que anda ao contrário!
Onde as estrelas são negro e o negro luz!
Um dia que não cabe no olhar, um dia que não se sorri, que se despinta, que se desnuda, frio de Ver!
Um dia, não, é um livro que deixa escorregar todas as suas letras por entre as páginas que se viram, ao vento e se amontoam, em pirâmide de sal, salgado, mas negro…
Que fazer a todas aquelas letras que já foram história, já foram sentir, já foram palavras de poema, já foram sentires de amor e agora são letras que só por acasos caóticos formam a palavra não, ou palavra qualquer?
Fecho os olhos e pinto, um não, sem cor, traçado-escrito, no vazio, só para sentir que ele está ali, preso na palavra, preso na escrita e ...
sorrio,e gargalho-me e corro contente, alegre-palhaço, alegre-menino, a avisar toda a gente, a anunciar o feito, o acontecer...
Escrevi-o!
Prendi-o!
Fechei-o, guardado no papel!
Queimei-o!
Volatilizei-o!
Hoje já não há mais dia não!
Agora conta, menina, conta a tua história, para amanhã vermos todas as cores da tua estrela…
7 de julho de 2004
sonho de menino-indio-que-olha-o-horizonte
Olho as palavras que me agrilhoam o Eu e imagino-as a florir em histórias infantis, contadas por saltimbanco-que-mendiga-destinos-por-existir. Visto-as de figuras falantes que correm em quimeras, em jogo de esconde-esconde-colorido...
Brinco palavras-vivas, que chilreiam gargalhadas de meninos que não se vêem, porque se engoliram no seu próprio mundo e imaginam-se livres em sonho, sentido, vivido, gulosamente vivido...
Brinco palavras-cor, em perfumes de flor-fada que não gosta de príncipes, em floresta de Outonos, perdido em cores de amêndoas doces...
Digo-me, coelho-fantasma que se inventa palavra-sem-som, que se transforma em afectos, e saltita bailarino, vestido e pintado de Pierrot, no teclado de piano que voa-universo...
Vejo-me, palavra sonho que adormece em nuvem que se aquece e que chora cores de menino-borboleta-de-olhos-que-voam...
Desenho palavra em forma de menino-indio-que-olha-o-horizonte e perco-me nos sentidos do sonho,
e calo-me,
e oiço,
e vejo-Te...
Brinco palavras-vivas, que chilreiam gargalhadas de meninos que não se vêem, porque se engoliram no seu próprio mundo e imaginam-se livres em sonho, sentido, vivido, gulosamente vivido...
Brinco palavras-cor, em perfumes de flor-fada que não gosta de príncipes, em floresta de Outonos, perdido em cores de amêndoas doces...
Digo-me, coelho-fantasma que se inventa palavra-sem-som, que se transforma em afectos, e saltita bailarino, vestido e pintado de Pierrot, no teclado de piano que voa-universo...
Vejo-me, palavra sonho que adormece em nuvem que se aquece e que chora cores de menino-borboleta-de-olhos-que-voam...
Desenho palavra em forma de menino-indio-que-olha-o-horizonte e perco-me nos sentidos do sonho,
e calo-me,
e oiço,
e vejo-Te...
dizem-te...
Dizem-te que as palavras não prendem, mas que envolvem, em cor e se misturam no sentir…
Dizem-te que uma palavra é um beijo, um afecto que traça o destino…
Dizem-te, que uma palavra é um gesto que transforma a ilusão num olhar…
Dizem-te que mesmo sem palavras há sentir, e que este cresce gigante em forma de presença, em sons de saudade…
Dizem-te que uma só palavra transforma o escuro em cor…
Dizem-te que a cor cintila Livre-em-luz, nas palavras que não se escrevem, porque se pintam em reflexos do ver, e se formam UNIVERSO…
Dizem-te que uma palavra é um beijo, um afecto que traça o destino…
Dizem-te, que uma palavra é um gesto que transforma a ilusão num olhar…
Dizem-te que mesmo sem palavras há sentir, e que este cresce gigante em forma de presença, em sons de saudade…
Dizem-te que uma só palavra transforma o escuro em cor…
Dizem-te que a cor cintila Livre-em-luz, nas palavras que não se escrevem, porque se pintam em reflexos do ver, e se formam UNIVERSO…
6 de julho de 2004
desenhar o destino
O destino é o cruzamento de todos os olhares. É um caos imprevisto que faz pulsar o Universo e que concentra todos os sentidos num só, e um só em todos os outros.
Se desenhasse o destino, pintava uma árvore …
Se desenhasse o destino, pintava uma árvore …
5 de julho de 2004
hélice-guilhotina
Apareceu-me esculpida no olhar, quase fotografia, uma hélice gigante em madeira-carvalho-floresta que me navegava a vida.
Qual o sinal? Qual a mensagem, se navego à vela, com os ventos, orientando-me nos caprichos das tempestades e dos estios?
Vejo muro que me atropela, que me dirige, que me condiciona e comanda, sem sentir, em ruído humano de máquina que rodopia cortante e insensível em forma de guilhotina.
Sou empurrado para a multidão que me afoga e grito em apelo da vela-vento, do vento que enfola as velas do meu barco-alma, na esperança de poder continuar a descoberta de mim, com todas as cores que me pintam o EU.
Qual o sinal? Qual a mensagem, se navego à vela, com os ventos, orientando-me nos caprichos das tempestades e dos estios?
Vejo muro que me atropela, que me dirige, que me condiciona e comanda, sem sentir, em ruído humano de máquina que rodopia cortante e insensível em forma de guilhotina.
Sou empurrado para a multidão que me afoga e grito em apelo da vela-vento, do vento que enfola as velas do meu barco-alma, na esperança de poder continuar a descoberta de mim, com todas as cores que me pintam o EU.
4 de julho de 2004
pincel-alma
Agarrei pincel-paleta, sujo-brilho, de cores selvagens, misturados de invenção e cheiros dementes de coisas novas. Pincel-alma de desenho vivo, sem medo, aventureiro, criativo. Fotografia do ver e do sentir. Cores que contam histórias de fantasias, sem começo nem fim. É pincel quadro, surrealista. Janela aberta que adivinha lugares, gentes que se passeiam em cidades outras, que só existem no olhar, em danças-musica de assobios ao vento, num pontão infindo que penetra o Mar. Misturo-me nas cores e transformo-me em traço, em quadro de figura-mãe que abraça de lenço-véu, filho que lhe sorri afectos e vontades. A cor é só OLHAR, o desenho que me desliza no ver, tem cabelos onda em forma de cascata-alada-de-negros-sol.
Ao fundo, sussurram mares em vela-nau, que lembram destino-aventura, de Homens-história. Olho fixo. É apenas esboço, porque o quadro vive-se em cada reflexo que o imagina e o inventa. Esconde-se envergonhado em nevoeiros-cor que tímidos se recusam a ser apenas história de um pintor que só sabe imaginar cores em palavras tristes.
O que pode ser mais surrealista, que cor que se pinta sozinha, num esboço de mar-vivo?
Ao fundo, sussurram mares em vela-nau, que lembram destino-aventura, de Homens-história. Olho fixo. É apenas esboço, porque o quadro vive-se em cada reflexo que o imagina e o inventa. Esconde-se envergonhado em nevoeiros-cor que tímidos se recusam a ser apenas história de um pintor que só sabe imaginar cores em palavras tristes.
O que pode ser mais surrealista, que cor que se pinta sozinha, num esboço de mar-vivo?
3 de julho de 2004
pingo de tinta
Ping!
Caiu em escorrega lento, gota azul-água em papel de arroz. Sem vida, mas em movimento de sons de violinos-trompete, que ecoavam poesias no ar, a aguardar gesto cuidado de pincel-chines.
Ping!
Soava, em bicos de pés de bailarina-cisne, era gota-azul-turquesa, cheia de corpo e de luzes opacas, que choravam desenho,nuvem, ao longe, com verdes desmaiados em águas outras, voados com gaivotas, que cheiravam a sal.
Ping!
Gota de azul-sujo-de-castanhos-humidos, quase lágrima de mendigo. Era gota aguarela, gota olhos-de-pintor, que olhava o mar e cuidados singelos, não fosse a cor assustar-se do pincel e esfumar-se sem vida.
De ping, em ping,
em azuis-de-menina-com-saudades-do-seu-mar-verde-onda, nasceu quadro musica, que ficou nos olhos do pintor, dele, e de todos, que antes de verem cor, ouviam o ping, ping, do azul-água que contava baixinho, histórias de amor...
Caiu em escorrega lento, gota azul-água em papel de arroz. Sem vida, mas em movimento de sons de violinos-trompete, que ecoavam poesias no ar, a aguardar gesto cuidado de pincel-chines.
Ping!
Soava, em bicos de pés de bailarina-cisne, era gota-azul-turquesa, cheia de corpo e de luzes opacas, que choravam desenho,nuvem, ao longe, com verdes desmaiados em águas outras, voados com gaivotas, que cheiravam a sal.
Ping!
Gota de azul-sujo-de-castanhos-humidos, quase lágrima de mendigo. Era gota aguarela, gota olhos-de-pintor, que olhava o mar e cuidados singelos, não fosse a cor assustar-se do pincel e esfumar-se sem vida.
De ping, em ping,
em azuis-de-menina-com-saudades-do-seu-mar-verde-onda, nasceu quadro musica, que ficou nos olhos do pintor, dele, e de todos, que antes de verem cor, ouviam o ping, ping, do azul-água que contava baixinho, histórias de amor...
2 de julho de 2004
sophia
A morte tem destas coisas do sentir, que se transforma num enorme vazio, que se confunde em dor, em lágrima, mas cuja presença é uma nítida e persistente ausência.Aprendi poema a ler-te histórias, daquelas que uma mãe conta a um filho, mais tarde, sentires, depois ainda, serenidade, nas ondas e no mar em que te envolvias em poesia.
Apareceste-me de nome Sophia, livro, brancos-palavra, poemas-de-praia-mar-em-luzes-de-lua-coral-que-choram-sozinhas…
(a Sophia de Mello Breyner Andresen )
Apareceste-me de nome Sophia, livro, brancos-palavra, poemas-de-praia-mar-em-luzes-de-lua-coral-que-choram-sozinhas…
(a Sophia de Mello Breyner Andresen )
1 de julho de 2004
rio-óvulo
Percorro, tacteando com o olhar, Rio que se forma, corpo. Nascente de vida que converge em destino e emerge do tempo em cores cristalinas, frescas, novas, que transbordam existir.
Percorro Rio que me penteia afectos com dedos de mão “ovulada” de vida, com perfumes e cores de flor-menina.
Percorro Rio que me penteia afectos com dedos de mão “ovulada” de vida, com perfumes e cores de flor-menina.
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