10 de abril de 2007

carta de um passado

(...)

Perdi o teu contacto.
Arrumações aqui e ali, apagaram memórias e passados.
Escreveste-me a devolver parte desse passado, meu e teu, (Dizes).
Palavras escritas e sentidas a duas mãos. Lembro os sentires. O momento. Os sorrisos...
O desenho do passado perde-se, tal como o do futuro. Todo o desenho se perde no cinzento das sombras. Como quem fecha os olhos e imagina a cor. Fica sempre esse limbo entre a imaginação do ver e do sentir ( será que há cor, no que imaginamos de olhos escuros a redesenhar os sentires?, ou os passados? ou os futuros? ou só há cor na luz?).
Reli o passado que me devolveste. E revi-me. E revi-te. Ali estávamos os dois a escrever sentires. De nós? Ou das personagens que nunca fomos nós?
Perdi o contacto para te dizer , um sorriso, porque os sorrisos também se escrevem, também se dizem.
Eu já não sou o mesmo. Tu continuas a arrumar o passado. O meu anda por aí na memória de cada um, mas só no que me ficou no eu, lhe reconheço cores e sombras. Sempre as sombras. Se um dia pintar a memória pinto-a cinzenta.
A cor evapora com o tempo, mas como as flores, ambas tem sementes.
O passado que me enviaste tem forma de semente. Por isso te queria escrever, para te dizer a forma da cor da semente que me ficou na memória. Porventura cor de papoila. Já teve um quadro essa papoila. O quadro já não sei dele. Dei-o para angariar fundos já não sei para que causa.
Não sei se aqui vens.
Este espaço não tem passado, e o outro de onde vim , já não tem futuro, mas queria-te escrever ( já o disse) para te deixar um sorriso suave, sereno. Trago sempre a serenidade com o passado, para não me surpreender com o futuro.

(???)


(...) desenho do pasado
(???) desenho do futuro

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