21 de julho de 2010

o sol derrete.se no mar

olho o sol, a derreter-se no mar, a fundir-se de azuis na lina que me orienta o sonho. foge-me. leva-me as palavras e o existir. ficam as cores, as cores do olhar, mais do que as que invento para me sentir vivo. duplico-me no sal e no vento do voo. não me encontro na noite, simplesmente porque não tenho noite. tenho sombras que dançam bailarinas no abismo e no labirinto que cegam as palavras, que as emudecem no grito de quem morre. desenhar a morte é esquecer o sorriso que se enforma na alma. resta-me a melodia do poema que se esconde nas águas da lágrima. é com elas que pinto os sorrisos, é com ela que animo o desenho da vida. brincadeira séria esta de desenhar sorrisos empoleirados no horizonte que apaga , dia após dia o sol. reinvento o dia, cada noite que me escorre no respirar e saboreio a serenidade no perfume do amar, no perfume sublime de me deixar deslizar na ternura de um olhar. não há gesto mais profundo que um olhar. oiço a melodia, oiço o som dos búzios e passeio-me na leveza da fantasia das estrelas. é no duplo que sou que me vivo. o outro que se passeia entre muros definha e morre, na lentidão da memória. pesam-me os dias em que me arrasto entre os murmúrios da ausência. a ausência apaga o tempo, dilui o sol, evapora o mar e dissolve a solidão enformando-a liquida( in sangue…insano?), pedra angular esculpida entre os suspiros e o fogo azul que me decepa o acreditar…
olho o sol e reaprendo o renascer, no ciclo do tempo. o sol é a luz do tempo, é a voz do tempo que circula no sonho e o cinzela na alma, tatuagem fina em giz de tela d’água…( aguarela?).
pinto, em tacteares suaves, os seios da vida, cabelos negros, soltos. vou em voo sem destinos, sem horas marcadas, como se fosse livre, como se não tivesse que me derreter no mar, qual sol preso na gravidade do universo. sou, no duplo que me habita, o somatório de todos os acasos. nesse somatório,sorrio, porque nesse instante, sou inteiro e único .