14 de dezembro de 2013

Perdi o hábito das palavras que me habitam. Fugiu-me com medo da minha própria serenidade. Não tenho palavras nos olhos quando me distraio de mim. Desabituo-me delas como se estivesse saciado da vida. Mas elas andam ai a esvoaçar sombras e a baterem-me á porta. 
Abro-a?
Não sei se me reencontro nelas. Já não têm a minha forma, estão desmoldadadas deste meu (des)ver o mundo. Perderam-se no meu próprio (des)tempo que me percorre, simplesmente porque não me passeio nas ruas da mesma forma. Agora levo os passos comigo. Desarquiquetei a melancolia de me ser só, nas ruas. Vou, nos outros porque me entraram no tempo e na memória do sentir. Como quem lê um poema sem o decifrar , sem o desencriptar e deixa que as palavras que o moldam corram nas veias-do-ver, sem reflexos, sem espelhos , esfomeadas de sombra.

Sem sombra não há poesia?
Provavelmente não , tal como não existem ondas sem vento ou sem epicentro .

A poesia é a minha tempestade e eu ando por aí escondido nos azuis… 

31 de agosto de 2013

Reencontro com as memórias de um liceu -ato 4

Desceu em mim um impulso confessionário, e quando assim sucede, agarro numa folha e rabisco as compulsivamente, não vá o pecado instalar-se e transformar-se em azia.
Expor os sentires é uma catarse que serena por isso aqui vai, em forma de narrativa confessional, dois segredos que poucos ouviram, mas que de tempos a tempos  invadem pausadamente o sossego dos sorrisos, que desfrutam irreverentes, como quem degusta prazeres, a ingenuidade dos actos praticados. ( lá estou eu com rodeios!!)
Mergulhemos nos segredos,
em voo planado de milhafre cusco ,
partamos todos para o reviver dos sentires ( assim consiga o narrador , fazer sentir a atmosfera e o ambiente de uma sala de aula recheada de sonhos juvenis e de outros ainda menos maduros, a raiar a infantilidade dos sonhadores compulsivos, onde se insere este que vos conta a estória).
Tentemos,
com calma, 
descrever o protagonista , e a relação que ele tinha com essa coisa estranha “sala de aula”. Para que não haja mal entendidos , sempre gostei da escola, só não gostava dos intervalos ( “intervalo”, traduza-se em linguagem do narrador como: momentos entediantes, enfadonhos, em que um adulto resolvia debitar coisas sem sentido a um conjunto de crianças à cuca do som do toque de saída, para se entrar na verdadeira essência da coisa… O “recreio!”).

Posto isto já entenderam que o “estudo” não era a minha especialidade, simplesmente porque não estava preparado para esse tipo de descoberta académica. Eu pura e simplesmente explorava fantasias e sonhos, criando o meu próprio cenário, criando e dessecando o meu próprio sentir, a minha própria consciência ( uma espécie de Sentimento de Si , precursor da neurociência de António  Damásio…!!! (http://metafisica.no.sapo.pt/guerra.html)  Como vêem , eu estudava era coisas muito mais avançadas!!!!).

Resumindo, para simplificar e não me tornar enfadonho, eu “esquizofreniava-me” nos “intervalos” ( não esquecer a definição da coisa) e em vez de ouvir o dito adulto-professor, fantasiava coisas outras, de olhos fixos num ponto qualquer do universo e vivia aventuras de temática vária, romances cor-de-lágrima, cowboyadas cujo herói era inevitavelmente “Aguia-quebrada”, índio sábio que liderava uma alcateia de lobos, contra os caras-palidas ( as minorias sempre me fascinaram!!!) , e outras que não vale a pena contar, porque demasiado oniricas e poderiam pensar que inalava fumos que na verdade nunca inalei, provavelmente por ter capacidade de induzir sonhos de forma perfeitamente natural, sem ajuda externa…).

Mas este viver estudantil tinha dois imbróglios de difícil solução ( os paradoxos , são isso mesmo, realidades opostas de difícil coabitação ): Os pontos /testes, e a recepção solene dos ditos.
Sempre recebi com entusiasmo os enunciados dos pontos. Era uma descoberta, e sempre me maravilhei com descobertas. Era ali que eu tomava consciência do que nunca tinha ouvido falar, era ali que “Aguia quebrada” perdia as suas batalhas, ali sim a luta era desigual, lutar contra armas atómicas era um verdadeiro suicídio, mas como a criatividade sempre me acompanhou, lá dissertava sobre a dita matéria, qual cientista perante algo verdadeiramente novo, e naqueles enunciados a matéria, era sempre algo de mesmo muito novo para mim! Não fosse a minha “culpa” e eu processaria os professores por perguntarem coisas exotéricas numa linguagem  altamente codificada…

Segredo um: ( afinal o motivo da estória são os segredos que pretendo revelar!). O meu genuíno estado de espirito durante a entrega dos testes.
Vou tentar descrever o estado por comparação, pois só assim conseguem sentir o que me ia na alma. Assim imaginem uma tombola do euromilhões por exemplo, e que cada nota anunciada era uma dessas bolas. Pois é! Era esse o meu acreditar, era essa a essência da minha Fé!

Acreditei sempre que o resultado daqueles indecifráveis enunciados davam origem a um determinado valor, por puro acaso! Eu tinha sempre azar, e nunca chegava aos números dos dois dígitos, só alguns, quase sempre os mesmos, tinham a sorte de levarem um numero jeitoso que lhes evitava sarilhos em casa!
Eu era pura e simplesmente um Calimero …(it’s an injustice. it is!!!).
Os bons números saiam sempre aos mesmos! Iam para o Rocha, O Morgado  o Filipe…
Faziam batota de certeza! Acertavam sempre nas perguntas!!!!
Mas a esperança renascia no próximo ponto.  Eu gostava dos pontos! Era é um azarado!

Segredo dois: Este guardei-o da família até hoje. Um breve preambulo para que se sinta o espirito do ato irreverente.
Na escola nunca li um livro obrigatório, fosse ele “ As viagens na minha terra”, os maias, “os lusiadas” ou “Fernando Pessoa” (  não fosse ele grande que não cabia num só titulo!!!).
Li-os mais tarde, que coisas a importantes como estas tem o seu tempo próprio e cada um tem o seu ( é mentira isto do tempo ser universal, treta que varias vezes consegui demostrar a mim mesmo, já que um minuto tem durações diferentes, “sendo diretamente proporcional ao estado de espirito de cada um”, ou “inversamente proporcional ao estado de espirito de cada qual”).

Mas vamos aos factos. Era já mais crescidinho e finalista do nosso LNA (77/78).
Exame ( 2ª chamada…. Raramente ia ás 1ªs….vá la saber-se porquê!) de Português do 7º ano, que daria acesso ao Propedêutico.

Preenchida a folha em ato solene, debrucei-me no enunciado, como quem mergulha no desconhecido ( neste caso a sensação foi semelhante a abrir os olhos de fronte às cataratas do iguaçu ), sem saber se a agua está fria, morna ou quente, aguardando que no mergulho a pele reaja de forma intempestiva ao sentir do embate.

Desta feita mergulhei-me todo por inteiro, no fascínio de ter simplesmente descoberto ( ali! naquele  instante!) um escritor maravilhoso, à medida que me transmutava na descoberta da AUTOPSICOGRAFIA de Fernado Pessoa e na qual me revia refletido  como se em vez de olhar um poema, me contemplava ao espelho:

“O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. “

A minha mão tomou vida própria ( qual escrita de Lobo Antunes) e ao sabor das “vozes que marulhavam das palavras”, escreveu folhas e folhas desalmadamente.
Lembro-me de ter pedido por duas vezes mais folhas , pedido esse que intrigou a Vigilante, pois sentia-a a passar ao meu lado constantemente com olhar inquisidor e curioso.
Eu sentia-me possesso por alma poeta. E quando a êxtase terminou, lembro-me de estar suado e cansado, tal fora o empenhamento, daquela verdadeira descoberta, que me transformou o sentir e a forma de me envolver no universo!

Só não me lembro da pergunta!

Quando deu o toque para entrega dos testes. Olhei para as folhas e resoluto, guardei-as na mochila e levei comigo aquele meu tesouro linguístico, como que transporta a essência da vida, a essência do sentir.
A folha que entreguei, para avaliação , essa ia  em branco ( segredo revelado!!!)

Pela primeira vez sai de um exame com um sorriso na alma.

O ter chumbado a português não foi relevante. Afinal podia passar-se de ano chumbado a uma cadeira, e foi esse o meu destino.

As Folhas resistiram guardadas anos a fio, até que um dia (6 Setembro de 1998) alguém resolveu fazer uma limpeza ao meu desarrumado escritório e decidiu literalmente deitar para o lixo todos os meus papeis. Nesse dia ( que não esqueço, dia , mês e ano!), em que esquiços de desenhos, escritas infantis, rabiscos vários de muitos anos de desabafos solitários, voaram para o lixo, perdi parte de mim, parte do meu existir, que me deixou prostrado tempos infinitos,  (cá está o paradoxo do tempo!), mas que aos poucos, foi sarando e hoje apenas guardo este segredo de me ter recusado a entregar o exame, por sentir que aquela minha descoberta literária era de tal modo importante que a deveria levar comigo, para deleite próprio e mais tarde recordar.

Recordo,
ainda hoje,
de insistentemente perguntar à mana “ tens a certeza que se passa de ano chumbado a uma cadeira? Tens mesmo a certeza? “

Tinha.

Nesse dia senti que finalmente o numero da sorte me tinha saído!!!!

27 de agosto de 2013

Reencontro com as memórias de um liceu -ato 3


Os fragmentos que hoje me invadiram as (des)lembranças, transportaram colado ás imagens, uma figura mítica, que não resisto em partilhar convosco. Trata-se de uma personagem de Banda Desenhada criada por Hergé, ( Tournesol / Girasol). Esta imagem (essa mesmo que coloco neste contar de coisas passadas) sobressai sempre que os fragmentos desse dia se suspendem nesta espécie de limbo que são as recordações da nossa infância
O relato impõe um outro tipo de narrativa, mais teatral ou cinéfila, assim avancemos :

Os protagonistas são :

“A mana” e duas outras colegas , que apenas aparecem como vultos, sem que lhes consiga desenhar a feições, por isso vão ter o papel de “acompanhantes” . Como tentarei ilustrar, a mana assume na integra a imagem , a ação e o sentir do dito Tournesol.

“Acompanhantes”: Duas , ( como já escrito). Trajadas de saias escocesas ( o que faz o raio de uma memória desencontrada… não me denuncia os rostos, mas o xadrez colorido, aparece nítido no desenho…), cabelo meio comprido e que lembram duas outras personagens de Jorge Amado, em Gabriela , que percorriam as ruas da vila (pacata Ilhéus) na procura do pecado alheio, ou de “cusquices” várias .

Perdoem-me as colegas ( que felizmente não consigo identificar) mas a imagem que me bailarina-na-retina, carrega mesmo um adereço que as ditas personagens “Jorgeanas” transportavam; elas, a bíblia, e estas, mais jovens e com menos vocações religiosas, os livros de matemática ou cadernos …de apontamentos ( Virgem Santa!);

“Acontecimento”: Teste ("ponto", como julgo se chamava) de matemática !(sem ser necessário mais nenhum comentário).

(A temática do teste/ponto é pouco relevante para a narrativa, até porque provavelmente a matéria era outra, que não álgebra, senos ou cossenos ( hiperbólico ou não!!), coisa sem importância para o narrador porque à época, para ele , qualquer matéria provocava o mesmo tipo de desassossego , o mesmo tipo de (des)empenhamento, o mesmo tipo de … abandono, não lhes dando confiança ou atenção, não fossem elas ( matérias) causarem esgotamento cerebral precoce, e com isso estragarem-lhe definitivamente as opções de um Futuro ( fosse ele qual fosse!!)) .

“Ambiente”: tendo em conta que ainda estava na turma da “mana”, só poderia ser no 5º ano, ou seja 75/76. Ambiente quente sem duvida , ao som de sucessivas RGE’s, ( Para quem tenha memória ainda mais danificada que a minha, diga-se, Reuniões Gerais de Estudantes) nas quais confesso nunca pus os pés, pois o convívio com bola ou sem ela ( que nunca fui lá muito jeitoso para tais artes…) era o eleito ( democraticamente por mim!!) para deitar o tempo fora( ou melhor dizendo…para jogar fora o tempo !!!), em vez de ouvir gritos inflamados sob o destino do Povo, ou de um qualquer desgraçado professor, ou de coisa outra importante, (quiçá o direito das formigas em terem 13ª mês… que modernidade!!!!), ou menos importante, (quiçá o direito dos professores se revoltarem com tamanha anarquia escolar) RGE´s, que tinham o mérito de aumentar os decibéis juvenis de toda uma geração estasiada com a possibilidade ( ingenuidade?) de comandar as rédeas do destino!!:

“Cenário”: Escadas e corredor de acesso a um dos pavilhões do fundo, atulhado de alunos ( diria de …frequentadores do liceu), exaltados e excitados com o poder de serem senhores do destino e do fazer, ou não fazer teste ( fazer ou não fazer…eis a questão!!).

Só falta a estória ( argumento, que estamos no Cinema!), que depois de tanto "falabaratar "da minha parte se torna coisa curta, quase sem história porque já entenderam certamente o desenrolar da acção!

!Acção!: As ditas três meninas decidiram contra tudo e contra todos, fazer o ponto ( lembrei agora, de repente que a dita prof. estava gravida, donde não era certamente matemática mas provavelmente português!!).

Porque estudaram!

Porque estava marcado!

Porque era um desrespeito!( não fazer!)

Porque eram cumpridoras;

Porque, porque… sei lá eu o que se passou na alma estudantil daquelas , ( essas sim !) estudantes.

Do outro lado ( da barricada) só poderia estar um piquete de greve! ( era próprio!) a boicotar a liberdade sabiática das meninas.
O engraçado é que na imagem que me esvoaça, só me lembro de uma enorme multidão , em numero muito superior à turma pelo que aquilo era a sério, de dimensões verdadeiramente revolucionárias, quase assunto a necessitar de relações externas e de brigadas revolucionárias internacionais,
pró sovietes,
pro cubanas
ou pró maoistas,
o importante era serem "pro-letárias".

Corta!
Uma pausa, só para tomar folgo, que agora é que vem a verdadeira história pelo que o realizador é obrigado a introduzir um efeito especial ( efeito tornesol! naquela figura que ilustra o estado de espirito e a fisionomia corporal …da mana! Mas quem é letrado em banda desenhada, pode acrescentar outro efeito especial, mais 3D, a imagem dos loucos gauleses a desbaratarem pelo ar os indefesos romanos!)

Acção!: O piquete tentou funcionar!( boicotar!) Seria fácil. Três “marias” contra uns quantos punhos no ar a agitar sonoridades com GREVE! GREVE! GREVE! era canja!

Errado! Era Sopa de Pedra!

E..."Hopp", a “mana” virou lieralmente Tornesol e eu que assistia ao desenrolar da acção , meio incrédulo , meio irmão ( sempre era família que diabo!) só vi os óculos do primeiro desgraçado voarem e o dito rapazito literalmente atropelado e magoado ( maoista ou não) e qual Moisés afasta o Mar …Morto, a dita mana num ápice afasta o piquete-morto como quem sopra uma papoila e vê as suas pétalas rubras esvoaçarem para os lados.

Fim de acçã: O facto de terem feito o teste/ponto é pouco relevante, com não é relevante os outros não o terem feito e terem tido nota na mesma, afinal experimentava-se a avaliação continua e que desde aí tem sido alvo de experiencias …continuas e imparáveis ( estabilidade democrática!!) …

Não recordo se o dito rapaz era da Turma, julgo que não, mas era das minhas amizades, e mesmo das amizades da mana.

O bom destes tempos é que não havia rancores, nem ódios ( nem Youtube) e horas depois já ninguém se lembrava do piquete de greve e das três marias, expeto eu que tive o privilégio de ver ali bem perto de mim o Tournesol, ( afinal um professor ilustre) a atuar no Nosso Liceu Nacional da Amadora!

ps: a mana que me desculpe e que não me deserde !!! Mas não poderia recordar, sem esta narrativa familiar!!!

25 de agosto de 2013

Reencontro com as memórias de um liceu -ato 2


Pôr em ordem as cartas do tempo, é tarefa árdua, quase de cartomante, porque os dias se baralham e é necessário procurar magias para tentar por tudo em ordem: sombras, sorrisos, angústias e choros.

Não foi necessário invocar deuses ( lusos…que a troika ainda não existia!) endonveilicos, mas a tarefa exigiu concentração para separar fantasias e cantares heroicos, da realidade vivida, nessa nossa iniciação revolucionaria .

Fiz de facto um esforço para tentar separar vivências do 5º ano, das que se seguiram noutra turma de 6º e 7º.
Os intervenientes eram quase todos diferentes e as tropelias dos pré-adultos do 6º e 7º eram mais maduras, menos inocentes porque já pesava nos ombros ( só de alguns porque eu pressinto que tive sempre os ombros leves…) a responsabilidade de sermos finalistas, (não fosse a chegada do fantasma propedêutico , que nos iria obrigar a uma paragem de um ano para uns, dois para muitos, e caminhos outros para outros tantos).

( Estou mesmo sénior!!...não me obriguem a prenunciar a palavra…Velho! “Macacos me mordam” ( diria o velho Haddok,) lá estou eu a divagar! Mas sou meio marinheiro, e o que me dá gozo , entre velas enfunadas, é mesmo deixar-me ir na deriva das ondas e das nortadas, sem rumo, apenas ao sabor do ir…perdido só de horas, porque voo, inteiro de mim.)

Centremo-nos na estória e deixemo-nos de navegações!!!! ( senis?)

A estória, (se é história), já que apenas restou o momento, começa como acaba um grande incendio, uma pequena faísca e sem que ninguém se aperceba, tudo toma proporções gigantescas.

O cenário ( envolvente psicossociológica…) é  .um pós-verão-quente-de-75.

Imagine-se ( Estou a ouvir John Lenon!!, vícios de idade...)
uma sala de aula
( na perspetival do professor, neste caso professora  de francês , de uma jaula?)
cheia de alunos ( animais?),
pós segundo toque, sem que a professora ( domador?) tivesse chegado com a respetiva dose de sapiência ( sedativos?)…

Retrate-se ( relembre-se!) a dita professora …jovem , ( teria menos idade que hoje tem os meus filhos ehehehh) , inibida e de olhos descontrolados, provavelmente por ter que ter “ olho no Burro ( eu?) e outro no cigano ( Paulo Solipa?)”

( que me desculpe a Sr.ª  Dr.ª Professora, a maldade juvenil que lastrava naqueles tempos de foices desembainhadas e tropelias várias, que como não me canso de dizer e de me mentalizar, deve ter sido um verdadeiro romance de Dante para quem pretendia , em ato patriótico e voluntarioso, ensinar Francês aqueles “selvagens” revolucionários ou não. Diria mesmo ( herege!!!) era coisa de por os olhos em bico!!!).

Continuando a narrativa (sem pintura, nem Botticelli),
julgo que a ideia partiu do Solipa e que eu ( fiel seguidor, provavelmente por admiração de tão ousada e desinibida criatura, e na tentativa de encobrir a crónica cobardia que sempre me atormentou)  logo apadrinhei tão luninosa ideia, colocando-me de imediato na proa de um toboggan improvisado ( secretária-de-aula virada ao contrário) e quais precursores do atual  ...”parkour”, ousámos descer as escadarias ( a nossa sala era no 2º piso) agarrados ás pernas das ditas ”skateárias”, sem pensar nas sequências , nem na resistência dos materiais ( matéria que seria meu objeto de estudo muito mais tarde!  Que culpa termos nós de isso ser matéria universitária???), nem na (im)probabilidade  ( que também se estudou mais além! Que culpa tínhamos nós de nos ensinarem francês em vez de probabilidades???) de vir alguém a subir as ditas escadas, muito menos, se esse alguém era a própria domadora, mais aterrada que nós, da descida vertiginosa sem possibilidade de travagem , fosse ela radical ou não!

Terminou a festa, numa sala a ouvir  sermão democrático-de-sua Excelência-e-camarada diretora da escola, em vez de nos terem mandado para casa (expulsos?), chamado os nossos pais , que nos dariam provavelmente mais que uma reprimenda e nos poriam, (sem duvida da parte que me toca…) os olhos em bico!!!!

Aproveito esta breve crónica da nossa iniciação precursora do “parkour” para pedir desculpas à nossa professorinha, da maldade a que era sujeita nas aulas, do sarcasmo a que era constrangida, por não sabermos controlar as nossa hormonas, ( afinal eram reações químicas de difícil controlo …coisas que mais uma vez afirmo, ser matéria universitária e cientifica e não programa liceal!!)

Fica assim um aviso aos nossos inúmeros ministros de educação ( passados e futuros) que pensem na importância de  introduzir estas importantes matérias já no secundário, resistência de materiais ,probabilidades e neurociências,  evitando assim, descontrolos comportamentais a uma juventude irrequieta que hoje provavelmente , porque já praticam o dito parkour em sitos mais apropriados( ou não!), aguardariam ordeiros , mesmo depois do segundo toque, tão importantes ensinamentos que os preparariam por certo, para a paciência infinita. tão necessária para as filas do centro de emprego… verdadeiros locais de peregrinação ( imigração?) do nosso quotidiano juvenil .. ( e outros!!)

ps: o dito texto , como todos os que são escritos com os meus olhos, seguem a ortografia do próprio, com acordo , sem acordo , mas decidamente acordado entre mim e a minha consciencia, nem sempre criativa...

24 de agosto de 2013

Reencontro com as memórias de um liceu -ato 1

Os acasos tem coisas extraordinárias, não fosse ele ( acaso) responsável pelo caos criador do universo ( convicção minha ao ter consciência que nasci de um espermatozoide meio chalado que desatou a correr que nem louco sabia lá ele para onde…).
Foi um desses encontros furtuitos que fervilharam em mim, um conjunto de sentires que se sobrepuseram à minha continua e desesperante falta de memória, obrigando-me a conviver com a memória-de-outros para me entender no meu próprio presente.
O encontro, ou reencontro nasceu de uma foto publicada ( pela mana) com meia dúzia de “cotas”, referindo serem ex-alunos do liceu da Amadora...
Ora tendo eu frequentado o dito liceu, no mesmo espaço físico e temporal que a mana, fiz um esforço de mineiro-dos-tempos e,
talvez por ir sem luz ,
só via ( sentia) um enorme vazio de deslembranças..
O certo é que comentário após comentário, a exploração começou a dar frutos (emoções?), e tenho andado em rebuliço com a redescoberta desses momentos que por artes magicas ali estavam, cobertos-de-pó-infantil, à espera que lhes pegasse,
como quem encontra um brinquedo abandonado , no atropelo de uma viagem sem retorno…

Essa fotografia, levou-me a olhar outras duas, essas sim do tempo exato em que o outrora-presente se transformou em memória do passado.

São esses fragmentos que queria partilhar convosco. Talvez despertem outros estilhaços  ( esquiços de outras matizes, certamente..)  e se possa um dia … mapear, o que então foi  a nossa aventura de sermos crianças num tempo revolto, onde nem os “grandes” conheciam o caminho novo que pisavam…

Fixei as duas fotos, como quem se senta na sala de cinema ( mudo e sem Charlot, mas igualmente num preto e branco difuso) e,
lá foram surgindo entre sorrisos e fragâncias pequenas imagens soltas da minha vivencia nesse nosso liceu.

A primeira,
que hoje aqui vos deixo,  foi isso mesmo, uma fragância…de baunilha e  uma cave/fabrica onde religiosamente, nas fugas das aulas ( havia aulas naquela altura??? ) ou nos intervalos prolongados… lá íamos nós , gulosos e não gulosos, comprar aparas de bolachas de baunilha, cheios-de-fé-inocente que uma daquelas senhoras de bata branca e carapuça no cabelo, se enganasse e em vez de aparas enchesse o saco de plástico com bolachas… inteiras!!
Mas saiamos felizes com as aparas e com os olhos gulosos, não para as aulas, mas para um qualquer degrau à sombra, salivando as migalhas que nos davam animo para a seca professoral que se seguia ( que me perdoem os profs, que hoje, acredito serem santos…pecadores ou não , mas santos com toda a certeza)!!

10 de julho de 2013

entre sombras


entre sombras

bebo esta loucura que me menstrua
o ver
e sangra os ventos,
sorvo o suor dos muros do tempo (lentos?)
para me iludir dos sonhos
que me cinzelam os passos
e travejam tempestades
de mim,
em cada respirar analfabeto
que me abraça o sentir
que se evapora entre as sombras-da-alma....

4 de julho de 2013

cinzas

espalhem as cinzas
(minhas)

no mar
para me sentir inteiro e sôfrego
na espuma das ondas
evaporada de mim...

3 de julho de 2013

re-começar

o sol ruge nas pedras
soltas
num manto de sombras-bailarinas
sem tempo
sem ventos...

pedras,
rubras!

com os olhos abertos no céu,
entre nuvens que se passeiam, em pastos selvagens

como águias!

águas a suarem sal
na solidão do tempo 
que se desfaz na mão
corrompida no silencio dos passos nocturnos...

23 de janeiro de 2013

Reflexos de um vento que me atropela os passos, no cúme de uma duna que morre abraçada ao mar

Procuro nas migalhas do tempo a fantasia,
aquela que nos envolve no sonho de sermos poesia,
intíma, colorida de afectos
sem a sombra dos dias

Sei, por respirações do ver que só há sombra se bebermos luz,
mas a cor que pinto é uma matiz sem arco-íris,
é um barco de velas brancas
a viver o destino, ébrio de horizontes e de trilhos
qual rio, que soluça nos estilhaços do vento que semeia metamorfoses de mim…

22 de janeiro de 2013

joana


Tens um rosto, e um nome,
o rosto é este, 
o nome joana…
teres tudo isto nos meus olhos, transforma a angustia dos silêncios numa tempestade de ventos e de mar...

Mas tu continuas ali no teu silêncio-de-lama, resignada de sorrisos azuis…
tu, mendigas pão,
eu , imploro-te sorrisos, mendigo de vazios que me ferem com a lentidão da impotência de não te permitir caminhos...