Perdi o hábito das palavras que me habitam. Fugiu-me com
medo da minha própria serenidade. Não tenho palavras nos olhos quando me distraio
de mim. Desabituo-me delas como se estivesse saciado da vida. Mas elas andam ai
a esvoaçar sombras e a baterem-me á porta.
Abro-a?
Não sei se me reencontro
nelas. Já não têm a minha forma, estão desmoldadadas deste meu (des)ver o mundo. Perderam-se
no meu próprio (des)tempo que me percorre, simplesmente porque não me passeio nas
ruas da mesma forma. Agora levo os passos comigo. Desarquiquetei a melancolia
de me ser só, nas ruas. Vou, nos outros porque me entraram no tempo e na memória
do sentir. Como quem lê um poema sem o decifrar , sem o desencriptar e deixa
que as palavras que o moldam corram nas veias-do-ver, sem reflexos, sem
espelhos , esfomeadas de sombra.
Sem sombra não há poesia?
Provavelmente não , tal como não
existem ondas sem vento ou sem epicentro .
A poesia é a minha tempestade e eu ando por aí escondido nos
azuis…