27 de maio de 2016

como nasce um poema


comecei a escrevinhar os pensamentos quando me dei conta que eles me esvoaçavam da memória. tudo servia , guardanapos, bilhetes de comboio, tudo servia para apontar uma pequena frase que depois no sossego da melancolia se estendiam noutras palavras e se transformavam de esquisso em desenho. vezes muitas perdi esses pensares, porque a memória sempre foi uma sombra a brincar ao esconde esconde.
hoje aconteceu-me algo estranho. caminhava na serra da boa viagem ( figueira da Foz), e uma dessas sombras, atropelou-me e surgiu assim clara , tal qual , datada e tudo ( 2008) e na falta de papel, não fosse esconder-se vez outra, deixei que se transformasse em som. foi assim que nasceu um poema hibernado no frio de um poço...


deixei tudo
tudo
a casa
o cão
a garagem
o gato
os pratos
as panelas
os garfos
as facas
Tudo
deixei tudo
o caminho
o pai
a mãe
a irmã
os filhos
a mulher
TUDO
um a um
deixei tudo
a paisagem
as flores
as folhas
as árvores
tu__________do!
um a um
gota a gota
passo a passo
deixei tudo
os livros,
as letras
as palavras
os gritos
a voz!
TUDO
deixei tudo
os silêncios
os ecos
as nuvens
o céu
o sol
a cor
TUDO
a musica
o jazzzzzzzzze
a fantasia
a poesia
TUDO
e
entrei
lentamente
na negritude do vazio
devagar
suavemente
não fosse eu fugir de mim


 

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