pousaste o olhar no vazio de mim,
assim ao de leve,
quase seda,
como sopro de asa-borboleta,
um toque,
um quase-nada.
sem memória nem vida(s),
um instante entre a linha-da-sombra-da-alma e o azul
ali ficaste, a desenhar caminhos
e
fantasia(s)
tenho uns olhos em forma de lápis, mas nem sempre de cor... Sei que sou esquisito mas a vida moldou-me assim... ganancioso de SER por inteiro e não me caber por inteiro em mim.
pousaste o olhar no vazio de mim,
assim ao de leve,
quase seda,
como sopro de asa-borboleta,
um toque,
um quase-nada.
sem memória nem vida(s),
um instante entre a linha-da-sombra-da-alma e o azul
ali ficaste, a desenhar caminhos
e
fantasia(s)
o poeta morreu de doença grave!
( muito grave!)
morreu por inspirar sorrisos mentirosos ( fumador de sorrisos?).
o poeta ( este) , nasceu com doença mutante, nasceu com os pulmões no olhar...
estendia a mão sem a dar, ( perfume de afetos, sem toque, apenas fragancia suave de um amor humilde, terno, gesto simples que une horizontes e futuros de cumplicidades) e seguia sem aguardar sorrisos.
esta sombra de palavras que chovem gélidas, finas, precisas, a desenhar solidões,
abraça-me,
lucida e silenciosa,
afogando-me os gritos!
há sombras, invisiveis nos sonhos, que nos sorvem a cor, como um sopro que desfaz sementes e fantasias
não pinto nem desenho.
olho a cor e deixo que se dissolva na pele.
só depois nasce a imagem que se envolve no prazer de simplesmente sentirmos o calor do belo!
desenho-a-palavra em forma de chuva,
cinzenta-de-neve, humida!
é o céu( a diluir a aguarela), o meu escultor-de-lágrimas.
só depois ( da escultura) desenho a franteira, com o sentimento diluido no diluvio-do-silêncio.
quando gritamos a solidão, nem o eco nos ouve, qual chuva (transformada em pele de lágrima), que nos abraça a alma, esculpida em forma de pássaro
o tempo só é mensurável com a a criação de um referencial , mas existe sem ele,,,
se o espaço-tempo se curva perante um objeto com massa, e se o conceito de velocidade implica tempo como variável, então a velocodade da luz não pode ser constante, pois é distorcida com a deformação do espaço-tempo.
( nota isto não é ciencia, são espasmos de pensamentos)
Só a unidade é finita, e só dentro dela coexiste a possibilidade do infinito.
só fora ( dele), se consegue vizualisar a sua finitude, o universo só é infinito se obsrvado fora dele.
o 1 é finito, mas entre o 1 e o 2, há uma infinidade de numeros ( 1,9, 1,99... 1,999999), só se salta do 1 para o 2, através de uma singularidade ( sair do 1). Só saltando da infinitude do 1, alacaçamos o 2.
o branco e o negro fascinam-me, são fronteira da cor, e elas ( cores), entre o horizonte-da-sombra, dançam irrequietas e loucas, na imaginação do desenho, que se transmuta em "palavras-fantasma e na "ilusão-do-poeta".
É entre o branco e o negro que preciste o meu universo, onde cada estrela é o reflexo do infinito, e o meu olhar, simples polén-de-estrelas"
Ouvir o som do trompete, num jazziguezaguear longo e suave é como ouvir o pingar das palavras num lago de montanha, onde só ouvimos o eu a silenciar-nos o ego de tão ínfimos sermos na infinidade de existirmos inteiros.
Chapéus de sol , toureados (bandarilhados?) na praia, de palha seca,
o horizonte-mar irrequieto, ondulado de carneiros, brancos alva, como casulos de neve, semeados nas encostas da serra, a refletir arco-íris húmidos,
eu,
a fingir-me nuvem serrana, à procura de ventos,
eu,
a ler lobo antunes ( antónio) , atónito, a invejar a poesia que lhe chora das palavras,
eu,
a saborear a tarde que morre, à espera do amanhã que só vem depois da noite, sem horizonte,
à noite não há horizontes para sonhar, o sonho está escondido na sombra da fantasia, a fingir passados de memórias intermitentes.
O meu sonho é isto,
memórias intermitentes…
Papá, papá qual é a palavra mais difícil de aprender, qual é a palavra mais difícil do mundo?
A palavra mais difícil do mundo é “amo-te”!
Amo-te? Porquê papá? diz-me , diz-me, quero muito saber…
Porque, filhote, estamos sempre a descobrir palavras novas que cabem inteiras na palavra “amo-te”…
a cidade respira pelos poros das pedras,
eu,
pelos olhos da gaivota.
ambos,
esculpimos as ruas desertas de sombras,
entre mim e ela, há um azul imenso
imerso de futuros
não tenho futuros,
tenho um aqui,
um agora que sopra destinos...
o meu tempo é o meu ar, o meu vento,
tudo o resto é um vazio que se esconde no grito do olhar...
lá longe estou eu e o mar,
a desenhar o horizonte,
quase gaivota a abraçar a sombra da lua,
lá longe estou eu e a cidade,
sepultado nos estilhaços da calçada, ao som do soluçar dos pombos,
( nas horas-perdidas-de ponta...)
tenho um silêncio gaguejante no olhar que me cega o sentido dos passos,
quase uma ausência de mim (relógio sem ponteiros), em equilíbrio de fronteiras efémeras,
como se me recontruísse no soluçar dos dias,
(num trovejar mudo do tempo).
Tacteio ,
cego,
a
cor da folha,
seca.
A
pele do olhar desenha as fronteiras da árvore que a expulsou da seiva,
guardo-a
em mim, para outros futuros,
(transformo-lhe
a história e a forma),
só
a cor persiste ( bela!)
(Porque
só ela é semente!)
Espreito
pela pele, ( num corte sem cor),
não
para ver, ouvir ou sentir,
espreito
para respirar o abismo que me toca a imaginação…
O existir tem uma mecânica física (universal),
a
alma também,
só
que se esconde no olhar (individual)!
Uma
é o eco da outra,
mas
só uma é semente!
(o
poeta,
sentado,
(qual estatua, de queixo apoiado em mão de escultor),
de olhar maravilhado,
tenta
desvendar o que nasce de cada uma, mesmo sabendo de fé que só uma é semente).
Estendi o mapa dos meus caminhos,
nas
dunas,
(tenho
os caminhos ondulados como as ondas do deserto).
Escolhi
um e colori-o de rio,
(…)
só
me falta desenhar o mar!
Na minha rua há um relógio gigante,
sem
tempo,
cansado
de existir, com as mãos a rezar às nuvens…
eu,
(menino)
conto as pedras da calçada,
as negras,
que as outras são ossos-do tempo que o relógio
não vê…
(os
relógios são incapazes de medir o futuro, mesmo os gigantes que olham a cidade
no cimo dos andaimes de Deus!)
Nos olhos de uma gaivota está um azul,
Nos meus,
um ponto sem cor,
que tatua uma linha irrequieta, sedenta por desenhar a
história que me respira o destino...
Tenho uma sombra bailarina
(endiabrada,
diria!)
que
flutua colorida…
Não
é sombra qualquer,
(só
por ser minha),
é
sombra egípcia
que
vagueia sozinha
empoleirada
nas crinas-da-lua…
Vezes
há que escreve e chora
(quando
distraída, se deixa prender dentro dos olhos , que estasiados de danças e de
letras, chovem gotas lindas,
violetas!)
Abracei, com a minha sombra, a árvore da cidade,
Cinzelei-lhe
as cores, em matizes negros de mim e fiquei a ouvi-lhe a seiva do tempo…
murmurava,
gravida-de-histórias-de
ventos,
com
a lentidão do chilrear-dos-ramos,
para
me embalar no sono e no sonho, na tentativa de encolher-me o abraço que a
anoitecia…
Apanhei uma pedra da falésia e aconcheguei-a qual buzio para lhe ouvir os ventos…
Estava indignada,
zangada,
por a ter acordado da eternidade e lhe ter trocado o
destino…
Na véspera-da-noite, pintei uma enorme janela com um mar imenso dentro, a refletir estilhaços de espelho-prata, a cintilar-me nos olhos desenhos-vestidos-de-sol-nascente.
Hoje,
derrubei o dia à
martelada.
Abri um enorme buraco,
queria tanto ver o que se passava
no desdia…
Espantado
( maravilhado?),
deparei com uma enorme tela vangogueana a ondular-me o existir...
desdia= o que vive no lado de lá do dia
Caminho nas memorias, como quem olha para uma tapeçaria de sedas finas, estendida além-horizonte.
Evito os passos, para não a enrugar,
não vá perder-me,
(Afogar-me?)
ou transportar-me
para-o-de-lá-de-mim.
É preciso muito cuidado quando
visitamos as memórias…
Por vezes,
(muitas)
caio num labirinto-de-mim, como
quem escorrega num quarto escuro e perde o sentido da porta,
no caso,
da porta-de-mim.
Não sinto angustias ou desesperos.
Nesse instante transformo-me em descobridor,
em explorador de mundos perdidos, permitindo-me a aventura de me reinventar…
Quem perde a porta de si, pode
ser qualquer coisa e nada o poderá surpreender, mesmo que se mimetize em
sombra,
em borboleta,
gaivota ou serpente.
Quando tropeço nesse labirinto,
e me mergulho inteiro nele,
sou certamente um mau pastor de
memórias…
Transformo-me em garimpeiro,
mineiro -de-mim,
sem saber se procuro cristal, ou fóssil,
se a luz do túnel,
ou simplesmente as aguas do rio.
Nestes momentos sou certamente exemplar
de estudo para um psi, seja ele quiatra, ou cólogo ( não lhes sei as diferenças de oficio,
provavelmente o primeiro é um lapidador de cristais, ( ferreiro de cristais?) e o outro um polidor, mas
certamente ambos ourives da mente).
Vezes há
(algumas)
que neste estado, perdido de mim
e em mim,
jorro palavras de sangue,
não que sinta dores,
raivas,
tumultos, ou intranquilidades…
Estas palavras-sangue, fluem
na procura e alimentam-me a descoberta, mantendo-me atendo à
realidade-nua-e-crua-do-sonho…
Parei,
(tropecei na angústia, e no
perfume dos crisântemos),
desorientado,
cansado,
perdido,
(assustado?)
Suei todas as palavras,
( pelos poros-dos-olhos)
Todas,
no calor-da-fantasia,
e entrei assim no deserto,
despalavrado.
Preciso urgentemente de beber um poema,
de um só trago,
de vez só,
fundido na seiva de mim,
(como quem bebe o universo à
noite,
na luz das estrelas).
Percorro os sentidos inóspitos da calçada da cidade
(vitrais de sombras-coloridas),
caras escondidas?
ao som das vozes
(passos de fuga de cada um, a
esculpir- vidros,)
oiço,
em sinfonia,
cada uma das
fugas,
bramidos na surdez dos silêncios…
O bailado-da-memoria tateia o
tempo…
ela,
é uma espécie de girassol envergonhado
dos voos noturnos e que se “girafa” em sorrisos-trocistas, a brincar com as sombras-concavas,
(do eu) no zénite das manhãs de azuis-esquecidos…
Não tenho ciência(s),
tenho uns olhos-saltimbancos, a
sondar descoberta(s) que respiram fluxos-de-cores que circulam no
coração-das-árvores e na seiva-das-estrelas que desaguam na luz-da-lua,
(que me segredam as direções
para onde vou, deslumbrando por ir…)
há uma sentinela-borboleta, ao fim da rua, a tocar violino
( austera, atenta, concentrada,
linda!)
Só passam para de-lá (dela),
o vento ,
as cores
e o perfume-do-sorriso,
o que sobeja
fica ali sentado
à espera de uma distração ...
No cinzento do sol, navega um moliceiro-vagabundo, a semear caminhos.
Segue,
enfolado,
sem pegadas.
Leva na luz-das-velas,
o tempo.
Transporta-o no silêncio-dos-labirintos,
como se carregasse o tesouro do
universo nas asas de um colibri.
Fumo, em respirares serenos, a luz-da-rocha,
(áspera!)
Nos poros, afogueados de agustias, suo os grãos da terra,
(vermelha!)
Que se evapora no sangue
(ácido!)
E bebo em saboreares lentos, o tempo que levita na neblina,
(suspenso!)
Que se evaporam no sangue= viagem no interior do eu,
incluindo na bagagem de viagem as angustias, que me aquecem os passos ( no
entanto… os olhos caminham para diante, para o exterior do eu, como se o magma implodisse
e se transformasse em cicatriz de pele)
Toda esta geologia tem uma explicação, passeio-me todos
os dias pelas falésias da Ericeira, cenário destes escritos de verão costeiro,
onde a neblina me acompanha o horizonte
hoje,
o horizonte levitou , em linha outra, acima do mar,
a linha que desenhou parecia um estendal a convidar-nos a
pendurar os sonhos a secar…
De manhã, no ainda quase-noite, fui ao mercado procurar
palavras.
havia muitas (frescas,
quase todas,
coloridas,
profundas,
leves,
agrestes,
meigas,
severas,
doces até),
gostei de muitas, mas não encontrei nenhuma das que preciso…
A paisagem que ondula no coração-das-estrelas, transmuta-me
em voos-semente.
perco-me entre a falésia e o sopro-do-mar, que me chama em
azuis-rudes,
violentos quebrando-me
o corpo e os passos,
trituram-me a membrana-da-alma, como moinhos-sem-velas, a
rodopiar desesperados na noite-da-lua, a ranger-destinos-esculpidos-em-madeira-seca.
membrana-da-alma=fronteira entre o olhar e o ver
Há homens-golfinhos a engomar as ondas no horizonte,
fogem dos azuis, do nada, e dos próprios homens, ébrios de liberdade
e do Deu que caminha nas águas,
Entre eles e o mar há um abismo que sorvem,
sedentos de se cruzarem
nos instantes do EU que se fragmenta na espuma das nuvens…
Há homens-pássaros cansados de voar, que pousam na escarpa a
descansar o olhar.
Liberto-as (palavras?)
escoo-as no ar (evaporadas?)
e sento-me no suor-das-rochas a absorver neblinas (letras?).
neste ciclo de respirações, transformam-se de mim(
elas?),
como quem procura uma semente,
um som.
um eco,
um reflexo,
Oculto em mistérios purpúreos que transformam o corpo-translucido …
Corpo translucido=poema que desenha as palavras com a
realidade do instante, à procura do equilíbrio e de um caminho = movimento do
caos das letras ao encontro da poesia…
A crosta da terra invade-me o pulsar da respiração das
cores,
a pele da rocha (os poros da falésia?) ondula ao vento a sussurrar
os segredos do tempo,
em que cada instante se liberta em eternidade…
pulsar da respiração das cores = o que a imaginação vê!
o instante que se liberta em eternidade = ao ponto que sente
ser simultaneamente, o centro e o todo ( o UM!)
Desnorteio as palavras, entulhando-as nas entralhas da terra,
enlouqueço-as de sombras,
sugo-lhes o ar em estrangulamentos canibais e subterrâneos,
asfixio-as em pesadelos noturnos,
e quando implodem
sôfregas de respirações,
vulcanizam poesias em mil matizes de cor que não param de dançar
em rodopios ciganos…
No abismo dos passos, estão rochas-barbaras, fossilizadas em
veias de basalto,
rios, vazios-de ecos,
medrosos da queda que lhes labirinta (antecipa?) o VER!
Fecho-me, a expirar memórias,
vejo-as,
para lhes desenhar o voar…
só assim as oiço (sinto?) nos passos,
só assim me vejo arvore,
raízes
e átomo
(esculpido pelos ventos)
O dia viola-a-noite, num sussurro crescente de ecos e de
passos,
e eles,
a calçada, adormecida na sombra-do-dia,
estilhaçada em fragmentos dos pólenes-viúvos dos jacarandás...
cinzelei
papoilas brancas na pele-dos-olhos, qual gaivota a beber o vento-norte, e
naveguei de passos vagabundos...